Colheita farta
A mão tecia,
habilmente, as palavras.
Surgiam versos,
figuras e algumas rimas.
Dia e noite, sempre atenta,
a Poetisa exercia o
ofício de compor.
Era como se cada dia
lhe ofertasse
um tecido novo,
imaculado, que ela
bordava fio a fio.
Da palavra seda,
uma imagem.
Do linho, talvez
uma comparação.
Construía, às vezes,
uma minúscula estrofe,
feita de sentimentos,
carregada nas tintas
da emoção sem fim.
Nela, o alicerce
eram as metáforas.
Uma argamassa ilusória
que sustentava os liames
da inspiração recém colhida.
A arquitetura do poema
ia, assim, tomando forma,
margeando a folha em branco,
frutificando em versos
de pura simetria.
Construção firme na
fragilidade do tempo,
na saudade de um amor
perdido ou no
desejo desfeito ao sabor
de um vento intenso.
Não importava o motivo
que aflorasse
um ou outro verso.
Tudo era transformado
na mão da Poetisa,
tecelã da palavra,
que no campo poético
sempre tinha a colheita farta.