Cobertor de orelhas
Sei que o tempo acentua o sabor do vinho,
mas, a sede é uma motivação gigantesca;
na verdade o tempo tortura o ser sozinho,
por que você não vem, tira um tempinho,
invade minha vinha pra comer uva fresca...
Sei também da água mole em pedra dura,
porém, eu gostaria de fechar essa goteira;
o amor quando verte, verte sem frescura,
assim como água da pedra, límpida e pura,
solidão virará pó, tão somente você queira...
Veraz afeto é na ausência que se comprova,
acho que essa receita é do Luiz de Camões;
tua ausência maltrata já me deu uma sova,
Por que você não vem para o ninho e prova,
o fausto que guardo aqui com meus botões...
Dias invernais, o frio cerrando sobrancelhas,
e cinzas noites gélidas, nesse tempo sisudo;
cá nesse cubo de paredes assoalho e telhas,
tá pra ti o que chamam cobertor de orelhas,
de orelhas, sussurros, braços, pernas e tudo...