MARIA E O MAR
Era assim...
Todo o dia ia Maria
olhar com olhos serenos,
sentir os ventos amenos
lavar seu corpo moreno,
e mergulhar no mar...
Era Maria feitiço,
fada naquelas areias,
era fogo, amor e viço.
Era mulher. Era sereia.
Todo dia,
ao sabor da maresia,
o mar amava Maria
quando mergulhava,
se nadava...
Maria e a fantasia
da maresia (brinquedo)
que de pura não sabia
do amor do mar em segredo.
Todo dia
ia Maria ao mar
que fazia maresia
só p’ra Maria embalar,
pois o mar amava Maria.
Era Maria criança
nas águas do mar brincando
e dançava alegre sua dança
vindo à tona e mergulhando...
Assim, todo dia
o mar, amor, maresia,
- a suprema fantasia -
era Maria a espalhar pelo ar
aroma de um corpo pequeno,
de um corpo moreno e nu,
nu pleno,
não obsceno.
Era a nudez de Maria
tão inocente e tão humana,
na paisagem praiana,
vestida de poesia.
E se Maria não ia
o mar irado ficava
pela praia a exigir
que lhe trouxessem Maria,
mas como a praia não sabia
por onde Maria andava
olhava o mar a sorrir.
O mar raivoso bramia
por Maria tão distante:
- quem sabe não estaria
vivendo os sonhos de um amante?
Certa vez Maria veio,
trazendo consigo o amante.
Era noite, lua cheia,
maré alta – preamar.
Ali, sob a luz do luar
desnudou-se sem receio
mostrando o seu nu brilhante
deitou-se e amou...
Na branca areia da praia
ficou sua marca de virgem
entre sussurros de amor
gemidos, suspiros e vertigem.
Foram soluços e beijos,
carícias, ardor e desejos...
O mar que então dormia,
sentindo os ais de Maria
despertou
e em suave maresia
veio à praia e espiou.
Viu Maria – o amor na areia –
sob a luz da lua cheia
e então pleno de ciúmes,
fez espumas – seus queixumes –
por Maria que amou ...
Viu Maria ‘inda sorrindo
de prazer no prazer pleno,
viu o seu rosto molhado
por beijos, suor, sereno ...
Viu o amante saindo
daquele corpo moreno
que ali ficou deitado.
Depois Maria, linda e nua,
tão cheia de amor, de lua,
‘inda em sussurros, (ainda sua),
levantou, foi mergulhar
e o mar (o ciúme solto)
de calmo fez-se revolto,
fez-se todo maresia,
fez-se violência e furor,
levou consigo Maria
e em Maria o seu amor.
O vento leve que passava
levou os ais de Maria
que entre espumas, maresia,
ia agora, agora estava.
E assim,
ficou a lua;
ficou a praia;
ficaram as marcas na areia;
ficaram roupas (blusa e saia);
ficou o mar alucinado
e o amante desolado ...
Foi-se Maria;
foi-se o amor;
foram-se os ternos gemidos
e os segredos contidos
naquele corpo moreno.
Foram-se os sonhos sonhados...
Foram-se os olhos serenos...
Depois
Maria
nunca mais iria nadar,
mergulhar,
sentir maresia.
Após amar em frente ao mar
preamar
foi com o mar,
fez-se mar.
Hoje
Maria que todo o dia
ia ao mar,
é mar ...