Poema para quem amou demais
O amor navega outros mares.
Cortou-me as unhas e os cabelos;
arrastou-me sobre as pedras
e desapareceu pisando as folhas
secas carregadas pelo vento.
Riscava os muros,
as paredes e o chão,
com a ponta das facas
e dos punhais.
Gritava palavras impróprias
para quem amou demais.
Desapareceu sem recados,
sem cartas, sem endereços.
Deixou o eco dos passos
vencendo veredas
e a sombra dos pulsos
desfazendo-se no ar.
Nos armários e gavetas,
sentimos o mofo das camisas
e o traço fino dos números
das contas a pagar.