BLUES MALANDRO

Havia a cidade só dos anjos, assim como a cidade apenas das flores, um povoado exclusivo de cavalos,

beijava flores um pássaro ébrio, mas certeiro, espalhando chamas das asas azuis,

nas pedras encontramos nomes, nem sempre claros, o claro nunca é evidente,

e o óbvio de todos os deuses pagáveis, é o mais dúbio

porém, na cidade, há um anjo eterno na forma do sorriso desenhado pela melodia,

talvez o bom humor invente lacunas que não precisem explicação, pois sempre é bom

olhar p'ra baixo vendo estrelas, por isso é tão importante a ruptura,

só vive uma vez aquele que não encontrou o amor,

pois como reconhecer o amor quem nunca entendeu um amigo?

Não importa, a saudade não é teia, e o sentimento escuta outra música,

não adianta regimentos e estatutos, sentir é fazer o caminho do anjo

vivendo entre as gentes para que o coração não pereça

e a esperança termine como um soluço de pirilampo

iluminando a noite parada na única dúvida da escuridão

Eu sigo até aí, meu amor, entre baladas de sapos plebeus

e o blues malandro dos gatos, ostento a cartola que delineia a saudade

e o teu amor bate a minha presença na arte de adivinhar quem te serei