MAS (republicado)

Muito de puro encanto nos dá a natureza,

No ir e vir das ondas do mar, de rara beleza,

No pôr do sol...

No azul do céu, em límpida claridade,

Ou na devastadora força de uma tempestade,

No arrebol...

Mas, para que ofuscado me fosse o bem de vê-la,

À luz do meu olhar, ela te fez Estrela.

E povoou de mil espécies o espaço das florestas,

A parecer que, a cada e noite, se realizam festas,

Sem cessar...

Usando de sua sapiência, precursora dos mestres,

De magia, salpicou todos os rincões silvestres,

Algo sem par...

Mas, para despertar em mim o dom maior do amor,

Ela te fez singela e delicada, qual a flor.

Deixando aos homens o uso de suas habilidades,

Permitiu que eles pudessem construir cidades,

Organizar-se...

Abriu, à mente dos humanos, o estudo da ciência,

Deu aos grandes oradores o poder da eloqüência,

De expressar-se...

Mas, para que eu me afastasse dessa ilusão confusa,

Fez-me nascer poeta e deu-te a mim, por musa.

A alguns, ela ensinou a arte da literatura,

A outros, dotou do canto, ou mesmo da pintura,

Fê-los artistas...

Criou dentro de muitos o gosto da estratégia,

Para que, guerreando, mostrassem força régia,

Em suas conquistas...

Mas, para que minh'alma se encantasse, se fez precisa

A mão dessa sublime natureza, fazendo-te poetisa.

Enfim, a que houvesse dia e noite, fez girar a Terra,

Criou a gravidade e tudo o mais que em si mesma encerra,

Suas leis...

Fez o planeta deslocar-se, a consumar o sábio plano

Segundo o qual se estabelessem as estações do ano,

A cada vez..

Mas, para que eu me apaixonasse, cumpriu seu mor mister:

Cuidou a que eu encontrasse, em ti, a mais bela mulher.

Obrigado, Vera, pela bela interação.

Muito de puro encanto nos dá o Poeta

entregue sempre à magia irriquieta

da palavra sublime que interpreta...

(Vera Scherer)