Canceriana
Quando o gemido irrompe e arrepia
A primavera grita
Quando um sorriso, matreiro, desenha a face
Uma afronta
Defronte ao mar
Acerto o ponto
À margem
Alinho o traço
Teu corpo, de areia e sal,
melado
Leio em braile
Quando oceano, entregue à praia,
abraço
Quando você, farol
Acendo
Na sua língua
Na ponta
Era visgo
Minha libido
Era vida
Saliva de maré cheia
Serei eu?
Tanto mar
Serei-a
Arranha céu
A unha do desejo
Na beira do Atlântico
Obsceno
Teu beijo
Beijo
E observo
O mundo a sós
Na tempestade
Sou barco
Tem outro lado?
Atravesso
Sou novo
E têm estrelas a me dizer:
-Bem- vindo a era de Câncer!