SEM RIMA 104.- ... indefensão ...

Vou garatujar uma história,

gloriosa e gozosa, carregada

de lembranças ainda presentes:

Vi-a, loira, a sorrir

descontraída e plena.

Pensei... imaginei...

argalhei* felizes e ousadas fantasias:

Alguém, Supremo talvez, ordenou

que no futuro fossem realidades certas.

E serão, são, já foram...

Houve pele e palavra, carne e ritmo,

sensações de prazer e sentimentos...

e regueifas** e altercações

e silêncios até, mas...

...hoje continuo abençoadamente

indefenso e cativo do sentimento e da palavra.

...

(*) "argalhar" v. tr. (1) Inventar mentiras. Mentir. (2) Armar ou promover embrulhos. (3) Discorrer, inventar contos ou histórias. (4) Conceber um plano com uma finalidade prática.

(**) "regueifa" s. f. (1) Pão ou bolo feito da farinha mais fina, geralmente em forma de rosca. (2) Pão doce, roscão de boda. (3) Cantares com que disputam o reparto de aquele pão nas bodas. (4) Pedaço de qualquer pão. (5) Espécie de certame literário em que moço e moço disputam uma fogaça de pão.

[ár. ragifa]

(No poema "regueifa" tome-se equivalente a "disputa" e "certame", em geral.