O verbo
Sempre me preocupo com as pessoas no mundo
Não com àquelas que estão na telinha e são celebridades
Que dão entrevista, fazem novelas ou longa-metragem
Que são devidamente respeitadas por seus fãs.
Mas com àquelas que acordam e vão para o trabalho,
Sonolentas segurando no ferro frio dos ônibus.
E que, quando saem às calçadas são anônimas,
E ninguém lhes dá atenção de que precisam;
São andantes quaisquer, talvez em busca do nada.
Sempre me preocupo com as pessoas no mundo
Com seus amores, com seus difíceis problemas.
Com a vida obscura no campo da imagem e do som,
Que se perdem em quartos negros de saudade.
Sempre me preocupo com as pessoas no mundo
Que lutam nos seus empregos no campo e na cidade
Com as mulheres abandonadas, crianças nas calçadas
Jogadas, cujo alimento é o desamor desenfreado.
Sempre me preocupo com as pessoas no mundo
Com os escritores e poetas que nunca são lidos.
Com as palavras no mundo esquecidas,
Que acabam de me afagar com a mágica universal
Do verbo que se fez carne agora desconhecido.