O verbo

Sempre me preocupo com as pessoas no mundo

Não com àquelas que estão na telinha e são celebridades

Que dão entrevista, fazem novelas ou longa-metragem

Que são devidamente respeitadas por seus fãs.

Mas com àquelas que acordam e vão para o trabalho,

Sonolentas segurando no ferro frio dos ônibus.

E que, quando saem às calçadas são anônimas,

E ninguém lhes dá atenção de que precisam;

São andantes quaisquer, talvez em busca do nada.

Sempre me preocupo com as pessoas no mundo

Com seus amores, com seus difíceis problemas.

Com a vida obscura no campo da imagem e do som,

Que se perdem em quartos negros de saudade.

Sempre me preocupo com as pessoas no mundo

Que lutam nos seus empregos no campo e na cidade

Com as mulheres abandonadas, crianças nas calçadas

Jogadas, cujo alimento é o desamor desenfreado.

Sempre me preocupo com as pessoas no mundo

Com os escritores e poetas que nunca são lidos.

Com as palavras no mundo esquecidas,

Que acabam de me afagar com a mágica universal

Do verbo que se fez carne agora desconhecido.

R J Cardoso
Enviado por R J Cardoso em 02/02/2007
Reeditado em 02/02/2007
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