O vento passa pelos canaviais…
Que antes eram uma praia
Antes da explosão nuclear
Uma praia
Ou algo de parecido
Algo de belo
Quando achava tal belo
Porque estavas comigo…
O vento passa
De forma agreste
Não doce
Uma espécie de zumbido
Quase silencioso
Mas que me fere os ouvidos…
Faz afinal mera companhia
A uma paisagem em decomposição
Que se pode dizer apocalíptica
Porque as coisas são assim
Quando a irracionalidade triunfa sobre a razão…
Porque aprendi
Que as mais belas recordações
Imagens
Aromas
Sensações
Estão destinadas a serem o oposto
De uma maneira por vezes radical
Inversamente radical
Quando descobrimos que o que amávamos
Em vez de bem
Nos faz
Quando tudo se passou
Nos faz mal…
E assim
De facto estou naquela praia
A mais bela de todas
O vento é doce
A paisagem sublime
O tempo de invejar
Mas tudo representa um inferno
Porque é tudo um significado vazio
Oco
Que não te tem a ti
Para a tal beleza justificar
Porque a tua ausência
Faz parecer lava
Até o inofensivo mar…