O vento passa pelos canaviais…

Que antes eram uma praia

Antes da explosão nuclear

Uma praia

Ou algo de parecido

Algo de belo

Quando achava tal belo

Porque estavas comigo…

O vento passa

De forma agreste

Não doce

Uma espécie de zumbido

Quase silencioso

Mas que me fere os ouvidos…

Faz afinal mera companhia

A uma paisagem em decomposição

Que se pode dizer apocalíptica

Porque as coisas são assim

Quando a irracionalidade triunfa sobre a razão…

Porque aprendi

Que as mais belas recordações

Imagens

Aromas

Sensações

Estão destinadas a serem o oposto

De uma maneira por vezes radical

Inversamente radical

Quando descobrimos que o que amávamos

Em vez de bem

Nos faz

Quando tudo se passou

Nos faz mal…

E assim

De facto estou naquela praia

A mais bela de todas

O vento é doce

A paisagem sublime

O tempo de invejar

Mas tudo representa um inferno

Porque é tudo um significado vazio

Oco

Que não te tem a ti

Para a tal beleza justificar

Porque a tua ausência

Faz parecer lava

Até o inofensivo mar…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 13/05/2012
Código do texto: T3665031
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