Não te Arrependas

Não te arrependas, Amada, porque a mim tão depressa

te deste!

Podes crer, nem por isso de ti penso coisas insolentes

e vis!

Vária é a acção das setas do Amor: algumas arranham,

E do rastejante veneno languesce pra anos o peito.

Mas, com penas potentes e gume afiado de fresco,

Outras penetram até ao tutano e rápido inflamam

o sangue.

Nos tempos heróicos, quando Deuses e Deusas amavam,

Ao olhar seguia o desejo, ao desejo o prazer.

Crês tu que a Deusa do Amor pensou muito tempo

Quando no bosque de Ida um dia Anquises lhe

agradou?

Se Luna tardasse a beijar o belo dormente,

Auiora, invejosa, em breve o teria acordado.

Hero descobriu Leandro no festim ruidoso, e ligeiro,

Ardente saltou o amante pra a corrente nocturna.

Rhea Sílvia, a virgem princesa, vai descuidosa

Buscar água ao Tibre, e o Deus dela se apossa.

Assim Marte gerou os seus filhos! — Uma loba

amamenta

Os Gémeos, e Roma nomeia-se princesa do mundo.

Johann Wolfgang von Goethe, in "Elegias Romanas"

Zorro Poeta
Enviado por Zorro Poeta em 12/05/2012
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