Amor

Aos Navegantes.

www.pporto.blogspot.com (Blog: "Sobre pétalas e preces")

À margem do mar espero teu retorno.

As pedras dizem de ti um rosto imaginado

que calado de esperas se violenta contra a marcha das águas.

Sou toda a violência da promessa sangrando as cordas da embarcação

ao revés num trapézio sobre o mar...

Meus achados são recifes e reis trapezistas se lançam entres os desvios,

entre os fios de solidão, os finos fios de teus cabelos a cobrir minhas mãos...

Minhas mãos, eu as sinto, não são mais de pedra...

Minhas mãos se assumiram frágeis com a música de tua viagem,

passando em vigília horas do tempo a recolher fragmentos de velhas histórias,

a contar vestígios espelhados nas conchas miúdas, no fruto marinho...

Na noite de estrelas acesas eu também me iluminei.

Nossas pequenas fraturas, pois, abraçadas à praia,

e por anos mergulhadas de mistérios, se inscreveram no texto do mundo

e por lá permaneceram cúmplices do barulho que espuma.

Mas eis que sobre o mar reinam seres que dão saltos ornamentais

para aportar em nossas terras e salgar nosso destino demarcado.

E que ao descobrir nossos sinais nos armadilham de esquecimentos,

e repatriam nossa língua de experiências.

Fazem ocultos nossos princípios, nosso enlace, nosso sonho de partilha.

Desatadas enfim minhas mãos só se poderiam lançar

e por isso, por uma nova pátria, se ameaçaram ao precipício,

e agora desunidas, vivem pagãs na presença e na face de um deus que sempre cai.

Minhas mãos se precipitaram e me ensinaram novas raízes,

novos sentidos sobre o desejo de ser outra,

a que dança nua na areia e tem corpo.

Teu retorno já não o podendo rever nos olhos que viviam em mim , o alimento e destruo.

Deixo então que me transgrida o mar em punhal e me dispa de honra a entrega.

Minhas mãos abertas do que foi claustro, tocam novos domínios.

Cada qual é uma onda partida, deixada em bilhetes,

avisos, urgências, pedidos feridos, pérolas em dor.

Talvez o mar, talvez um dia, talvez a flor frugal, perdida de meus cabelos para os corais,

encontre em tuas mãos os motivos, a herança tardia dos navegantes.

Patricia Porto

Patricia_Porto
Enviado por Patricia_Porto em 11/05/2012
Código do texto: T3662088
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