SEM RIMA 91.- ... néctar ...
Posso, como (aprendiz de) poeta,
brincar sobre qualquer dos significados
que os dicionaristas oferecem
para a palavra "néctar":
no âmbito da MITOLOGIA "bebida dos deuses"
gregos, mormente;
em sentido figurado "bebida muito saborosa ou excelente",
referível acaso ao bíblico "leite e mel";
também figuradamente, "delícia; encanto";
e mesmo em BOTÂNICA "suco doce e aromatizado
com óleos essenciais,
segregado por um órgão que se encontra
nas flores ou plantas (nectário)", que por sua vez
pode ser tomado não como metáfora,
mas mesmo como alegoria, se referido
aos comportamentos humanos.
Dizem também os dicionaristas
que a palavra procede do grego "néktar", de iguais (?) aceções,
mas através do (?) latim "nectăre-", significativamente
idêntico do grego "néktar" e do português "néctar".
Será tudo isso certo? Ignoro-o,
como, em geral, os (aprendizes de) poetas
ignoram o que seja a língua e o seu léxico:
é por esse profundo e radical motivo
que dia trás dia são capazes de os inventar,
léxico e língua, para dizer o que ninguém outro
ousa dizer...
Por exemplo, quando uma poeta,
lirizando episódios de amor,
evoca "o meu néctar",
que é o que procura de nós, leitores,
que imaginemos?
Será a "bebida dos deuses",
neste caso, das deusas?
Será alguma "bebida saborosa e excelente",
que ela sabe preparar
e de que só ela conhece o segredo
dos ingredientes?
Se for "delícia ou encanto" o que tenta evocar,
a que "delicia", a que "encanto" nos remeteria?
Não sei, mas suspeito que a poeta,
ao dizer "néctar", não evoca esse "suco doce
e aromatizado" que segregam "flores" ou "nectários"
vegetais... Ou sim? Alegoricamente?
Deixo abertas as questões...
Ah, néctar, néctar feminino, que mistérios
fascinosos e tremendos escondes?
(Por outro lado, convido humildemente
as poetas a fantasiarem
sobre o que possa evocar o "néctar" masculino...)