Sol do Meu Dia

Se eu fosse nuvem tinha imensa mágoa

Não te servindo de asas maternais

Que te pudessem abrigar da água

Que chovesse das mais!

E sendo eu onda, tinha mágoa suma

Não te podendo a ti, mulher, levar

De praia em praia sobre a alva espuma,

Sem nunca te molhar!

E sendo aragem eu, que pela face

Te roçasse de rijo alguma vez

Que o Senhor com mais força respirasse...

Que mágoa imensa... Vês?

E a luz do teu olhar que me não luza

Um rápido momento a mim sequer,

Como a águia no ar, que passa e cruza

A terra sem na ver!

Mas que me importa a mim! Se me esmagasses

Um dia aos pés o coração a mim,

As vozes que lhe ouviras, se escutasses,

Era o teu nome... sim;

O teu nome gemido docemente,

Com toda a fé de um mártir em Jesus.

Se acaso já em Cristo pôs um crente

A fé que eu em ti pus!

A fé, mais o amor! Porque ele expira

Sem que a ninguém lhe estale o coração;

E eu, se essa luz dos olhos me fugira,

Sobrevivia? Não.

Assim como em ti vivo, morreria

Também contigo, se uma vez (que horror!)

Te visse pôr, ó Sol!... Sol do meu dia!

Astro do meu amor!

João de Deus, in 'Campo de Flores'

Zorro Poeta
Enviado por Zorro Poeta em 08/05/2012
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