Amor

AMOR

Sobre o amor, tenho a impressão de que já disseram tudo o que era

importante e necessário.

“If I could write the beauty of your eyes

And in fresh numbers number all your graces,

The age to come would say 'This poet lies:

Such heavenly touches ne'er touch'd earthly faces.”

Escreveu Shakespeare com maestria de estilo e profundo sentimento,

Camões dissera de outra maneira:

“Amor é fogo que arde sem se ver;

É ferida que dói e não se sente;

É um contentamento descontente;

É dor que desatina sem doer.”

Eu, poeta medíocre, em primeiro lugar para a mulher amada, só consigo dizer:

- eu te amo.

Tão pouco...

Mas estou inebriado, da mesma forma, por um amor global, cósmico, e quero dizer isto.

Quero.

Preciso.

Cantar o mistério glorioso da vida, a beleza multiforme do Cosmo, o carinho

para com os irmãos e irmãs que me sorriem, louvar o Deus que me criou e ampara,

mesmo sem convicção, desconfiado da Verdade que não percebo integralmente,

mas só consigo dizer - eu amo a tudo e a todos.

Tão pouco...

É isso, mas não é só isso, é muito mais. É um sentimento arrebatador de

necessária convivência afetiva e de certeza de encontros com sentimentos iguais.

Nunca sei se meus devaneios amorosos são inspirações loucas de um despossuído de razão, concretude e objetividade...

Tão pobre e gasta esta expressão – amor – para a sua infinita grandiosidade e esplendor.

Ama-se a Deus, a mulher, os filhos, os pais, os amigos e amigas, certas musicas, alguns quadros, poucas esculturas, o por do sol, a noite estrelada, os amanheceres, uma tarde chuvosa, o zumbido dos insetos e a alegria das flores ao por eles serem fecundadas, a dança das borboletas, a cerração nos dias frios, o canto dos pássaros, o verde dos campos e das matas, - ah, e o mar com suas cores cambiantes e placidez enganosa, pois é muito mais belo ventoso e furioso com a terra e seus contornos que o constrangem na sua liberdade de estar sempre criando formas e expressões de seus mistérios dos “pélagos profundos”...

E, para tudo isso de belo e bom, só consigo encontrar uma palavra, opulentamente paupérrima e dizer: - amo.

O amor é puro sentimento? É indescritível? É preciso aceitar a impotência

da expressão? Só os artistas, os santos e santas, são capazes de

sentir o amor na sua plenitude e vivenciá-lo, felizes e completos

com suas obras, silêncios e contemplações?

Mas quem não é santo ou artista, faz o que?

Desespera-se angustiado de êxtase contido pela incapacidade de comunicar-se?

Explode-se, vomitando o amor inconfesso por pura inépcia? Ou, calado,

deixar-se a vida pulsar no seu ritmo próprio?

Oxalá Eros seja exaltado por novas formas que outros, mais afortunados, encontrarem...

É química de hormônios que se assanham por visões, sons, cheiros, toques?

É estado de espírito trepidante que precisa se expressar, de qualquer maneira?

Que bons os tempos que só se podia versejar com estrofes bem definidas e rimas.

Um exercício da inteligência que organizava, sinteticamente,

os sentimentos e os expressavam com graça e concisão.

Tudo o que precisava ser dito acontecia, com poucas estrofes e palavras.

Insisto em continuar a explicar o meu entendimento do amor,

ou paro por aqui afirmando, pobremente, como sempre,

não saber como melhor fazer para dizer o que sinto?

Começo a acreditar que a solução é cessar com o esforço,

pois percebo a emersão, do fundo do meu ser, confuso e em desintegração, o ódio.

Ódio imenso e a fúria indiscriminada com a impossibilidade de descrever,

com nitidez, o que sinto, na necessária comunicação que consiste a

essência do meu ser.

No entanto, creio, que aí acontecerá o pior, pois ao não se dizer nada,

o silêncio matará o amor.

Ora, não podendo expressar, com simplicidade e ternura,

o amor que me torna indivíduo e pessoa,

devo contentar-me com a simples palavra, já tão corroída pelo uso freqüente?

O mais sábio, parece, é estar sempre atento às possibilidades, expectante de uma oportunidade de que, com um gesto humano, possa sinalizar o que me vai no coração,

levando consigo à todos, o meu infinito e indefinível êxtase

com a beleza da vida, do Cosmo e da mulher amada.

A que possibilitou o que agora acontece com seu olhar, uma carícia e um beijo, sussurrando, quase inaudível, o meu nome...

Ecoa, então, pela eternidade e nos limites do tempo e do espaço que se expandem,

sua linda voz afirmando ser eu o seu amor e ela o meu.

Sem mais complicações mentais passo a estar seguro de que

existo, amo e creio.

Eurico de Andrade Neves Borba, Ana Rech maio de 2012

(aniversário da Izabel e do nosso encontro eterno e definitivo)

Eurico de Andrade Neves Borba
Enviado por Eurico de Andrade Neves Borba em 06/05/2012
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