Os amores, os temores (meus caros senhores!)
Hoje, declaro-me, caros senhores,
escrava e guardiã de todos os meus amores
- desses sentimentos ditos tão inferiores
como Platão, outrora, chegou a afirmar.
O meu espírito ouve os clamores
que desabrocham em mim feito flores...
Mas a mente enche-se de temores
(a necessidade cruel de não mais me machucar).
Ele não tem ideia de como o seu sorrir,
aberto e raro, me retoma de súbito o sentir
das auroras poéticas que tentei reprimir
durante o meu amargo tempo de niilismo...
...E, ao mesmo tempo, devo admitir
que sua ocasional companhia em meu seguir
me devolveu o anseio de me deixar possuir
por algo que antagoniza com meu ceticismo.
Ah! Bem sei que este meu desejar
é fruto da solidão, a qual deixei me agarrar
como a um escudo para não mais derramar
as lágrimas vermelhas do sofrimento...
...Mas, estranho! Como explicar
que o tão pouco que dele sei vá conquistar
a poesia hoje adormecida sobre o suportar
de uma realidade calcada sem sentimento?
Mas, claro, é prematuro tal querer:
amanhã, quiçá, até possa me esquecer
da emoção que agora me faz escrever
palavras tão intrínsecas em meu coração...
Nos seus olhos, posso um dia claro ver,
e é vicioso por perto sempre te ter...
Sim, senhores, eu mesma não sei entender
até onde vai esta louca e nova situação!
Mas, o medo - tão maldito aqui dentro!
Faz com que me recorde as dores do meu tempo,
controle-me forte, a todo momento,
e me impeça de outra vez me arriscar...
... Arriscar a sorte, revelar o sentimento
tão tênue do gostar, amparado no contemplo
tão mudo, no temor de mais uma dor ao vento
- que parece, aqui no fundo, me ameaçar.
Assim eu lhes revelo, meus senhores,
a tragédia particular dos meus amores...
...Tão recentes, mas tão doces de se sentir;
como um Sol a fazer a noite densa decair!
(Praia de Boa Viagem, 03 de maio de 2012)