PRA SEGURAR UM CASAMENTO.
Não são os desejos, os relampejos, os cortejos,
nem tampouco os arvoredos, os arremedos ou os medos,
também não são as atrizes, as cicatrizes, as crises.
O casamento não fica firme pelas plumagens, pelas carruagens, pela falta de sacanagens,
nem tampouco pelas escamas, pela chama, pela cama.
Também não fica em pé só pela fé,
ou pelo aperto de mão, pelo perdão, pelo gozo da ilusão.
Casamento, seja qual for, não se aguenta só pelas poucas feridas,
nem deixa de ficar doente pela falta de despedida,
oi por não passar das medidas.
Casamento é coisa difícil, suas regras não aceitam mandos nem desmandos,
precisa de sangue cheio de fôlegos, precisa de calos pra suportar os tantos tropeços e puxões de orelha. Mas isso é pouco, muito pouco.
Casamento precisa de uma coisa extremamente pequena para não ruir, para não roer a corda, pra não virar pó.
Uma coisa que não descamba, não descansa, não abandona o barco nunca, nem deixa a peteca cair.
Precisa de uma criatura que os céus mandam como dádiva mais temprana, como legado pleno de brilhos, de cheiros, de luz,
como fardo querido revestido de ternura sem curva.
Casamento pra não enferrujar, enguiçar e perder sua alma, precisa só de uma coisa, acredite.
Precisa de um cachorro.
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