Penúltimo canto do cisne







Nessa época do ano, especificamente,
costuman-se derreter as geleiras.
E elas fazem ver ao mundo, que ignora,
onde foi parar meu coração cansado:
dentro de do peito de um cisne morto,
surpreendido pela nevasca em pleno vôo.
E quanto mais se liquefaz a estrutura
dos micro-fractais simétricos,
mais pulsante e ferido se torna o músculo.
E ele jamais entendeu quando é hora de parar.
Mesmo sabendo que foram todos extintos,
mesmo sabendo que jamais terá lugar,
insiste em esperar a luz do horiznte violeta,
de onde um canto de retorno nunca virá.
E assim canta a ave um canto azedo,
como o gosto de sonhos desintegrados.
Ave morta de coração persistente,
com seus reflexos automáticos,
e sua esperança aniquilada.
Se Sibelius tivesse ouvido meu canto,
calaria o seu corne inglês ineficiente.
Rasgaria seu próprio peito sofredor,
e não daria ao mundo uma pequena parte
do meu solitário horror frente ao deserto de gelo.


EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 29/04/2012
Código do texto: T3640008
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