Amor e medo
Em leve doer se fez o mundo,
No silêncio um segredo,
Que voa ao alto tão profundo
Tens amor? Eu medo!
E quando ousei apenas tocar-te
Assim no véu de pureza,
Esta alma em fogo quis beijar-te
Nas brasas da fraqueza!
Ai de mim!Que no enleio da paixão
Não cabe ao enredo
Inebriado em delicada sensação
Tens amor? Eu medo!
Que graça ouvir-te assim rindo,
Com a luz n’um olhar,
Alumiando um sofrer tão lindo
Na falua levada ao mar
Meu anjo tão belo este gracejo
Do dia nascido cedo
Em volúpia ata-me tanto desejo
Tens amor? Eu medo!
Mas quando o dia vai adiante
Vigiando todo o amor
Sou teu sonho, febre delirante
Teu canto de ardor!
E se me viste assim tão incauto,
Andar pelo arvoredo
Sou nas trevas um nobre arauto
Tenho amor!Tu medo!