O CANTO AZUL DA MENTE & MAIS

O CANTO AZUL DA MENTE I (2009)

Será que existe menopausa da poesia?

Caso existir, será em idade vaga,

que não se contem os anos, dia a dia,

mas o número de versos como adaga,

com que se corta o tempo que se apaga

e que a outro tipo de vida conduzia,

em que o número de estrofes alivia

e em que o peso dos meses não esmaga.

Tal qual se prolongasse, em sua folia,

a areia da ampulheta, falsa imagem,

que a vida não se esgota na elegia...

Quanto mais rápida dos versos a carruagem,

mais se acumula a razão que os produzia,

sem que se afogue em tal metalinguagem...

O CANTO AZUL DA MENTE II (7/11/11)

(para Lígia Antunes Leivas)

Muitos anos atrás, veterinária

e boa amiga minha, por pirraça,

advertiu-me que o sexo que se faça

enfim desgasta sua fonte originária...

Disse-me ela que sexo é igual a traça

e as espermátides desgasta na diária

reprodução de gametas perdulária:

"Com muito sexo, tua virilidade passa!"

Mas é claro que nem por um momento

acreditei nesse escarnecimento.

O que se usa no corpo, se estimula.

É mais a falta de sexo que o anula.

Incha-se a próstata por falta de descarga,

nessa andropausa fictícia que a embarga...

O CANTO AZUL DA MENTE III

De modo igual, a força muscular

não se desgasta senão pelo desuso.

Não se encolhem os músculos por uso,

mas por preguiça ou falha alimentar.

E o coração que não se vê estimular,

perde seu ritmo tal qual vazio fuso.

Até o canal que expele o bolo escuso

se torna lento se não posto a trabalhar.

São assim as funções deste organismo

com que fomos dotados, de criança...

Com exercício é que se emposta a voz,

nossos demônios só sofrem exorcismo

quando vivemos cheios de esperança

e usamos tudo que foi confiado a nós...

O CANTO AZUL DA MENTE IV

E assim transcorre nos páramos da mente,

em seu controle do organismo inteiro.

Se estimulada, funciona mais ligeiro

e sua memória se revela esplandecente.

Os dedos se aprimoram, lentamente,

para o pintar, o esculpir, para o certeiro

digitar no teclado mais traiçoeiro,

para os acordes emitir, seguramente,

para os pistões apertar de forma igual

ou os furos da flauta recobrir:

movem-se os dedos até o automatismo...

Mas é a mente que controla o natural

movimento da agulha em seu cerzir

e até os pedais necessários ao ciclismo...

O CANTO AZUL DA MENTE V

E ali se encontram os caminhos da poesia,

que brota mais quanto mais é estimulada,

igual que a prosa, talvez mais estimada,

tal qual a música impante de harmonia...

Porém eu sei que aos versos reluzia

uma senda neural toda azulada.

Celeste esta vereda e até sagrada,

para esses que a trilhá-la permitia...

É das redes cerebrais a mais viçosa

e quanto mais se poda, mais rebrota:

é inesgotável em sua diária fonte.

Bem mais veloz que uma ideia caprichosa,

pois vem de dentro e seu soar denota

para a humanidade inteira a firme ponte.

O CANTO AZUL DA MENTE VI

Assim, não surge nunca a menopausa,

nem no escroto e nem nas trompas da poesia:

nada é vedado àquele que mais cria;

para o fim da inspiração não existe causa.

O canto azul da mente não tem pausa

e não se enche jamais seu canto azul,

antes se expande, em seu urdir exul...

(O canto expande e o canto nunca pausa!)

Que quanto mais se canta, mais certeira

é essa avalanche que ao cantar não falha,

quanto mais brilhe no mundo seu fanal.

Até que um canto preenche a mente inteira

e o outro canto pela Terra inteira espalha,

de canto a canto, seu canto triunfal!...

SANTELMO I (24/6/2006)

não é um ser mortal: surge por Mágica

e então desaparece, num Instante...

quando menos espero, a Itinerante

face retorna, como numa Trágica

revelação de um rosto no Nevoeiro,

para esfazer depois; um leve Toque

é quanto basta para que se Evoque

a fantasia do sonho Derradeiro...

que não se realiza, nem Jamais

se tornará concreto, tal se Fosse

nuvem de luz apenas, Ouropel

feito de sombras, abortos Imortais,

um som tangível, como o chão me Trouxe

a imagem seca de uma flor de Fel.

SANTELMO II (7 fev 12)

surge o Santelmo no meio do Nevoeiro,

fosforescência violeta e cor-de-Anil

sobre a cruz do campanário ou sobre um Vil

poste de luz, despido e Corriqueiro.

na ponta de um arpão surgiu, Certeiro,

em Moby Dick, meu romance Juvenil,

de Herman Melville, o qual fez Senhoril

demonstração desse tema Marinheiro.

mas se andares pelo meio da Neblina,

por um gramado ou estrada Solitária,

talvez se forme a teu redor um Halo,

tal qual a hagiologia nos Ensina,

mostravam santos de maneira Vária,

hoje louvados pelo toque do Badalo!

SANTELMO III

dizem que houve um santo na Alemanha,

chamado Santo Helmuth e de seu Nome

surgiu o Santo Elmo, que só Some

quando dissipa o sol da névoa a Manha...

outros falaram, em convicção Tamanha

que era um elmo mesmo e que Retome,

na Sexta-feira Santa igual Renome,

milagrosa essa luz, que assim o Banha.

pois fora usado, na Crucifixão,

por São Longuinho, então o Centurião

que a lança espetou contra Jesus...

era Marcellus Longinius, na Verdade,

e o capacete se encheu de Santidade

por ter tocado na verdadeira Cruz!...

SANTELMO IV

eu certamente não saberia Dizer

se não foi um fogo-fátuo, Simplesmente,

pois a terra escureceu e era Imanente

nesses lugares em que o sangue se Escorreu...

tal centurião existiu, Naturalmente,

mas quem podia esse milagre Descrever?

nas Escrituras não o podemos Ler;

só se depreende que se tornou um Crente...

mas para mim, o Santelmo de teu Rosto

assombra os passos, a cada Cerração:

tua face emerge, envolta nesse Halo,

que já não vejo, para meu Desgosto,

tão logo o sol dissipa minha Ilusão...

mas inda a lembro; e por isso não me Calo!

PADRÕES I (2009)

Amor é um sentimento que os poetas

inventaram e fingiram que existisse,

tal como o romantismo revestisse

as ânsias do querer com ideais de estetas.

Mas as mulheres raramente são patetas

e querem garantias... Essa tolice

pertence mais ao homem, que mentisse

sua atração sexual em galas mais completas.

Se fosse assim, há muito o casamento

não mais existiria e nem sequer

essa sangria da pensão alimentícia...

Porque amor só habita o pensamento

de quem se deixa levar pela estultícia

de quem pensa ser amado por mulher...

PADRÕES II (6 nov 2011)

E porque busca a mulher a segurança

e a garantia de ter o próprio ninho,

enquanto o homem prefere beber vinho

e amar sem compromisso, qual criança,

sempre haverá qualquer desesperança

nessa busca de amor qual azevinho,

na confusão perpétua do carinho,

no arremedo constante da esquivança.

Porque o homem, se é romântico, se atira

sem olhar as consequências, nem o preço,

em busca dessa jóia conquistar...

Enquanto a jovem, até quando suspira,

sabe dar ao material maior apreço

e cedo ou tarde, seu conforto irá buscar...

PADRÕES III

Não que afirme com isso que não amem,

porém buscam do amor o resultado.

Pouco lhes serve um caso inacabado,

sem que laços mais firmes lhe reclamem.

E por mais que românticas se chamem,

mantêm os pés na terra, em firme fado.

O seu instinto é ter filhos ao lado,

por mais que amar o amor assim proclamem.

E como reclamar de tal instinto?

Vem a mulher para a maternidade,

muito mais que para esposa ou profissão.

É somente o mais real que aqui eu pinto

e o que seria de toda a humanidade,

sem tais hormônios que a garantirão?

William Lagos
Enviado por William Lagos em 23/04/2012
Código do texto: T3628446
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