Estrela da Tarde

Era a tarde mais longa de todas as tardes

Que me acontecia

Eu esperava por ti, tu não vinhas

Tardavas e eu entardecia

Era tarde, tão tarde, que a boca,

Tardando-lhe o beijo, mordia

Quando à boca da noite surgiste

Na tarde tal rosa tardia

Quando nós nos olhamos tardamos no beijo

Que a boca pedia

E na tarde ficamos unidos ardendo na luz

Que morria

Em nós dois nessa tarde em que tanto

Tardaste o sol amanhecia

Era tarde demais para haver outra noite,

Para haver outro dia.

Meu amor, meu amor

Minha estrela da tarde

Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde.

Meu amor, meu amor

Eu não tenho a certeza

Se tu és a alegria ou se és a tristeza.

Meu amor, meu amor

Eu não tenho a certeza.

Foi a noite mais bela de todas as noites

Que nos aconteceram

Dos noturnos silêncios que à noite

De aromas e beijos se encheram

Foi a noite em que os nossos dois

Corpos cansados não adormeceram

E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram.

Foram noites e noites que numa só noite

Nos aconteceram

Era o dia da noite de todas as noites

Que nos precederam

Era a noite mais clara daqueles

Que à noite amando se deram

E entre os braços da noite de tanto

Se amarem, vivendo morreram.

Eu não sei, meu amor, se o que digo

É ternura, se é riso, se é pranto

É por ti que adormeço e acordo

E acordado recordo no canto

Essa tarde em que tarde surgiste

Dum triste e profundo recanto

Essa noite em que cedo nasceste despida

De mágoa e de espanto.

Meu amor, nunca é tarde nem cedo

Para quem se quer tanto!

Ary dos Santos e Fernando Tordo
Enviado por Carlos D Martins em 20/04/2012
Reeditado em 20/04/2012
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