FIESTA BRAVA & MAIS

FIESTA BRAVA – 31 JAN 12

Quando seus lábios beijei naquele dia,

O mundo estremeceu no coração.

Eu segurava estrelas em minha mão

e o sol dançava em minha fantasia...

Quando a tomei nos braços, a nostalgia

que tanto marchetara-me a emoção

rompida foi em seus olhos de vulcão,

seus braços a prisão que mais queria...

E nesse instante de relampejar,

senti a alma inteira palpitar,

no torvelinho com que me tomou...

Nunca pensei que encontraria tamanha

felicidade nesse lençol de Espanha,

em que toda a minha tristeza se esgarçou...

REGRAS DA VIDA LXXV (27/1/12)

Aprenda a delegar responsabilidades

a seus filhos, desde a sua tenra idade.

É muito errado oferecer-lhes liberdade,

sem qualquer obrigação: são falsidades!

Bondoso é quem demonstra que as verdades

não se encontram no gozo da bondade.

Seu resultado é só incapacidade,

sem sequer reconhecerem as igualdades.

Entregue a eles coisas a fazer,

é importante, para que aprendam a crescer,

enquanto você mesmo diminua,

porque um dia o(a) terão de substituir

e caso não os saiba conduzir,

muito mais sofrerão com a vida crua.

REGRAS DA VIDA LXXVI (28/1/2012)

Seus filhos viver só não poderão,

enquanto não se livrarem de você.

Talvez seja difícil o porquê,

mas colabore com tal separação.

Se você insistir que a criação

se prolongue em demasia, já se vê

que por mais que tenha amor, por mais que dê,

cedo ou mais tarde se ressentirão.

O que desejam é viverem a sua vida,

em liberdade e sem supervisão,

o que é difícil conseguir no lar.

Quanto mais cedo lhes apressar a despedida,

tanto mais breve eles retornarão,

filhos adultos, para o(a) acompanhar.

REGRAS DA VIDA LXXVI-A (29 JAN 2012)

Quando se prende é quanto mais se perde;

quando se solta é quanto mais se tem.

Filhos criados para o mundo vêm,

não para a espera daquilo que se herde.

É preciso empurrar, abrir o ninho,

dar todo o apoio, porém nunca reter.

Mostrar a rua e deixar acontecer,

que não se percam por excesso de carinho.

Se não partirem, nunca voltarão:

ficarão presos, sem que fiquem perto,

quanto mais der, mais raiva sentirão.

Mas depois que seus erros cometerem,

não deixarão que o lar fique deserto,

que é quando voltam, para o aquecerem.

REGRAS DA VIDA LXXVII (30 jan 12)

Quase nunca você irá aprovar

os amigos de seus filhos. Na verdade,

eles tendem a criar mais amizade,

justamente por quem você negar

qualquer aprovação, sem explicar,

porque não gosta deles, em sua vaidade

de saber discernir, na realidade,

com quem seus filhos deverão andar

ou namorar depois. Mas isso é bom.

Demonstre que os criou sem preconceito,

porque é certa sua procura de outra gente

que deles se demonstra diferente.

Modere então a dureza de seu tom,

sem julgar seja sua busca só um defeito.

TAHOPEKALIGA I – 29 DEZ 11

Talvez que seja hoje o derradeiro

assalto à fortaleza da poesia;

sei muito bem que, de fato, deveria

apenas refazer o monte inteiro

desses poemas de vezo chocarreiro,

que da poeira me encaram, em zombaria,

do alto dessa pilha e vem o dia

em que recobrirão meu corpo inteiro,

porque, afinal, isso não passa de vaidade:

não quero publicar, porém se enxergam

pelos farrapos de uma capa igual

à de Diógenes, em tanta veleidade;

é meu orgulho que as poeiras tais envergam,

enquanto finjo humildade natural.

TAHOPEKALIGA II

Mas talvez não seja minha essa vaidade,

porém da voz silente que me inspira,

desse nexo insatisfeito, que me mira

de dentro para fora, em veleidade,

ou desse catavento, que assim gira

em torno de minha mente, sem piedade

e que se quer manifestar à claridade,

para que o mundo inteiro a si confira

e pouco importa que provoque inveja

esse fluir de versos cristalinos

ou remanchados no lodo da incerteza;

e pouco importa quando alguém me beija,

pela feitura de cristais divinos,

facetados de grosseira singeleza...

TAHOPEKALIGA III

Pois o que importa é que parar não posso,

mesmo que seja escassa a inspiração

e marcada de mangra a brotação

e poluída a fonte por um fosso;

são versos velhos de meu peito moço,

são versos novos da maturação,

impertinentes, em sua exultação,

a transbordar da boca desse poço;

que muita vez já procurei fechar

essa torrente e, mesmo, até parei,

por alguns dias de irrequieto alívio,

mas a corrente insistiu em rebrotar

e a novos versos de novo me dobrei,

que não se conformaram com o oblívio.

TAHOPEKALIGA IV

Mas e quando terei tempo, antes da morte,

para passar a limpo a multidão

desses versos rascunhados, que hoje estão

a se nutrir da poeira da má sorte...?

Que a cada vez que original aporte,

do alto da pilha, para digitação,

logo outros dois ou três aos pés já estão,

redigidos quiçá em seu suporte...

Às vezes, com sucesso até inefável,

outros somente medíocres, corriqueiros,

mas que se aprestam sem contestação

e me apressuro em garatuja da infindável

serpente de balbúrdia, nos ligeiros

movimentos menos meus que de minha mão.

William Lagos
Enviado por William Lagos em 19/04/2012
Código do texto: T3622030
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