A impossibilidade de não amar-te
Amar o impossível, o sonho,
O inatingível, platônico ser
Distante, disperso, vago...
Amar à distância,
Amar com fervor.
Ter a alma em êxtase, o corpo abrasado,
Mãos frias, úmidas...
Nas pernas, o tremor patético
E na tez, a palidez mortal
De quem já principia a desistência da vida -
Se há vida no ser que ama
Sem ser amado...
A aflição de amar o "inamável",
De querer o impossível,
Buscar alcançar o inatingível.
E ao mesmo tempo reconhecer
A impossibilidade de não amar-te.
Exigir da alma
Esquecer o inesquecível.
Buscar esgotar o amor que é
Por si inesgotável.
Hesitar,
Ofegar,
Vibrar.
Estremecer,
Padecer,
Sofrer...
Afligir-se buscando sujeitar
Corpo e coração
A um estado impossível de ser alcançado -
O desamor por ti.
E o tormento desse amor
É decisão, não destino.
Depender desse amor
Escolha, não fatalidade.
E se não existisses,
Amaria o desconhecido, o indecifrável,
Amaria o próprio vácuo da tua ausência.
Amaria tão somente a possibilidade de tua existência.