Poema de Amor

Se te pedirem, amor, se te pedirem

que contes a velha história

da nau que partiu

e se perdeu,

não contes, amor, não contes

que o mar és tu

e a nau sou eu.

E se pedirem, amor, e se pedirem

que contes a velha fábula

do lobo que matou o cordeiro

e lhe roeu as entranhas,

não contes, amor, não contes

que o lobo é a minha carne

e o cordeiro a minha estrela

que sempre tu conheceste

e te guiou — mal ou bem.

Depois, sabes, estou enjoado

desta farsa.

Histórias, fábulas, amores

tudo me corre os ouvidos

a fugir.

Sou o guerreiro sem forças

para erguer a sua espada,

sou o piloto do barco

que a tempestade afundou.

Não contes, amor, não contes

que eu tenho a alma sem luz.

...Quero-me só, a sofrer e arrastar

a minha cruz.

Fernando Namora, in "Relevos"

Zorro Poeta
Enviado por Zorro Poeta em 17/04/2012
Código do texto: T3618404
Classificação de conteúdo: seguro