"A sós"

A sós...

Comigo me encontro, às escondidas

Com a alma crivada de intranqüilidade

Comigo me encontro, no castigo

Escondendo meus olhos da realidade

Num gesto de vergonha consentida

Estou sozinha, mesma, de verdade...

Bendita sombra que me esconde agora

Das frestas de toda essa realidade

Bendito vento que refresca a alma

Embaraça nos cabelos meus devaneios

Estende-se, debruça-se no alheio

Soprando brisas, em meu corpo cheio...

Bendita lua, que encharca com seus luares

Clarões que perpetuam lumes de ansiedade

Bendita imagem que gerada da imensidão, semeia

Corolas de anseios ainda no meu coração

Bendita flor que exala aromas celestiais

Angelicais perfumes, loucos de emoção...

Bendita visão que me embala a criatividade

Mesmo em tortuosos vexames de saudades

Anima meu ser a continuar vivendo

Trazendo na alma, lívida de espanto

Meu segredo de irreal encanto

O amor que escondo, sofrendo...

Benditas todas as criaturas

Que me escondem os meus lamentos

Que perpetuam todos meus alentos

Dando-me vigor, força descomunal

Para eu continuar meus sofrimentos

Apagando a vergonha destes tormentos...

Minh'alma chora e nesta chuva

Rolam face abaixo, lavando calma

Chuva de anseios tal qual em gotas

Num respingar as chuvas da alma

Matizam cores, esperançando vida

Dando-me estilos em rimas sofridas...

E, de olhar pra ti, numa censura

Custa-me crer que foste a criatura

Que embalava meus sonhos com ternura

Mas és afinal uma sentença viva

És a revolta que meu peito abriga

Emaranhado desconforto que fatiga...

Myriam Peres

Myriam Peres
Enviado por Myriam Peres em 20/07/2005
Código do texto: T36059