e-OUSADIA

e-OUSADIA I (29 JUN 2006)

Computadores são seres caprichosos,

Que só trabalham quando estão dispostos,

Que se divertem com nossos desgostos,

E só depois se revelam dadivosos...

Como a mulher que ama e não confessa,

Porque deseja até fazer sofrer...

Mas um pouquinho só... E ao pertencer,

Que tesouros de amor então professa!...

Só de ti, ai mulher! – aceito isso,

Cheio de amor e de divertimento:

Jogar contigo o jogo me contento.

Mas para jogos eletrônicos sou remisso:

Não me disponho assim a esperar,

Por máquina a que jamais hei de beijar...

e-OUSADIA II (1º JAN 2012)

O que se encontra na rede é dividido,

Nada inconsútil, não pano de uma só peça,

Como o manto de Cristo, que não cessa

De assombrar, porque já foi perdido

Há dois milênios, ao exegeta fido.

Lançaram sortes sobre ele, nessa

Sexta-feira da Paixão, memória espessa.

Dizem alguns que inteiro foi vendido

Para José de Arimateia, o senador,

Que o teria levado até a Inglaterra,

Quando fugiu da fúria dos judeus,

Porque se convertera ao novo amor

E os saduceus já lhe faziam guerra,

Porque as almas retornavam para Deus.

e-OUSADIA III

Porque Deus reabsorvia os que eram seus

E o Inferno ficava nesta Terra,

As almas más numa perpétua guerra,

Até que renascessem entre os judeus

E cumprissem os preceitos desse Deus;

Portanto, o corpo fica, que se enterra,

Não ressuscita qualquer alma que encerra

E Arimateia traíra os saduceus,

Nessa sua crença de que subira aos céus

O Filho de Maria, a consagrada

Pela Graça Divina e temporal...

E alguns dizem que, oculta sob véus,

Essa Maria foi por ele transportada

Para a Inglaterra, em viagem triunfal...

e-OUSADIA IV

Mas tem a rede diversa natureza:

É toda dividida em estruturas,

Cada pixel, cada bit, nas escuras

Veredas destituídas de beleza,

Cada uma delas trazendo, com certeza

Só oito bits de informações puras,

Um código de entrada e, bem seguras

Por outro de saída, em singeleza...

Mas tu não és assim, mulher inteira,

Como o manto inconsútil teus cabelos

E mesmo nos teus erros, és formosa,

Que a alma te contemplo, em seresteira

Percepção de todos meus desvelos,

Tão delicada quanto pétalas de rosa.

William Lagos
Enviado por William Lagos em 09/04/2012
Código do texto: T3603283
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