RETRANCA IMPENETRÁVEL!
I
Divago no turno noturno
Na tranca que trava o ruído,
No excesso que é grande e é absurdo,
No trago que nem foi sorvido...
Cativo, deturpo o caminho
Que é turvo e me faz tão sozinho...
Se ouço alguns passos no estrado
É pura saudade o que sinto;
É fardo, é prisão, é embargo...
Vingança que tu comes, fria.
Bocado amargo eu diria...
II
Centelha de luz eu procuro
E tiro do peito outra tira:
A dor que se mostra sem jeito.
É forte. Oh! É vil. Não expira.
Respiro com força e o ar
É denso, é intenso pesar.
Se penso que devo esquecer
A mente relembra o ocaso
Do sol que já não posso ver.
Viver por viver desmorona.
Tu ris, mas sou quem beija a lona.
III
O tento parece impossível.
Defesa é mais forte que ataque!
Coesa em si mesma, se fecha
E a mágoa não há quem aplaque.
Cativo no tempo e no espaço,
Eis, sinto entranhar-me frio aço!
Correr já não posso. É tão tarde!
As forças me faltam... É fato.
O sal lambe os olhos. Ai! Arde.
Perdoa e me tira da cova,
Pois amo-te. Tu tens a prova.
Ronaldo Rhusso
A Retranca, uma forma poética que se caracteriza por um esquema em quatro estrofes com a seguinte disposição: 4,2,3,2, com oito sílabas métricas por verso, onde o quarteto tem assonâncias no segundo e quarto versos; o primeiro dístico com assonâncias EMparelhadas; o terceto com assonâncias no primeiro e terceiro versos da estrofe e um dístico final com rimas consonantais.