A ambição do vento
Está vento...
Eu sinto como ele sopra forte
Vejo as folhas amarelecidas rolarem
Pela estrada fora à deriva
E penso...
Que sou mais uma folha
Talvez também à deriva
Nos meus pensamentos
E nos medos que ninguém advinha
Como se o vento fosse o abismo
De algo que não se consegue prever
E se teme acima de todas as coisas
Está vento...
Na rua os cabelos esvoaçam
As pessoas abraçam-se às roupas
E ainda assim nada parece fazer sentido
Só o rolar das folhas
Num percurso enigmático
Que eu desconheço mas que espero
Com toda a determinação
Que seja de Paz
Para todos nós
Está vento...
A vida rodopia para novas direcções
Mas quais? Será que alguém sabe?
Eu sigo o vento e ouço-o
No meu corpo, na minha alma, no meu ser
Sinto-o como se fosse parte de mim
Como se eu fosse o vento
Que embate nas folhas e as leva
Para longe dos seus ramos
Cortando cordões umbilicais
Que a vida semeou ao redor delas
Eu vejo que...
Cansadas e sem a mesma vitalidade
Elas seguem
Por essa estrada misteriosa
Que as leva...
Oh que as leva para longe...
Numa qualquer direcção
Está vento...
Ouçam...Sintam...Falem com ele
Não o deixem revolver as vossas vidas
Dêem-lhe atenção
É isso que ele pede
Quando sibila baixinho
Uivando
Tentando chegar aos nossos corações
E ainda assim
Que barulho faz o vento?
Será que sabemos definir?
Oh...
Ele sopra
Mas ninguém o ouve
Ou sabe o que ele diz
A única coisa que vemos
É que as folhas de Outono
Amarelecidas
Cansadas
Débeis
Vão com ele
Está vento...
Em casa embrulhados na manta
Sentados no sofá
Ligados aos nossos sonhos
Sentimos o calor
O bem estar que vem de uma protecção
Consolidada pelas paredes do nosso ninho
Mas e as folhas?
Para onde é que eles vão?
Que conforto e calor as embala?
Eu quero acreditar que é o desconhecido
O vento trouxe-lhes a sapiência
E por isso enquanto rolam
Só sentem que voam
E enquanto sentem que voam
Pensam que estão a fazer algo
Que nunca sonharam puder fazer
Ah...para as folhas o desconhecido é belo
É uma nova oportunidade
Talvez a possibilidade de renascer
De criar outros cordões
Voltarem a ficar verdes
Recuperarem a vida
Para voltarem a sentir o vento