NOTURNA
(Patricia Porto)
http://pporto.blogspot.com.br/2012/04/noturnos.html
Chuva cai fina,
minha noite sem capa abraça o meu corpo.
O que é um corpo sem pensamento?
É uma arte inventada pelas mãos de um artesão,
é um permeado de sentido
sem projetos científicos, sem projeções de centro
que não tragam o periférico dentro do que da distância é o infinito.
Sem nenhuma morte circunstancial, acidental. Só a da raiz, aprofunda.
Apenas o corpo ao devir ao vir,
que ao proteger do mal nele revela o bem, o sal.
E quando o medo invadir seu quarto,
meu guarda-fantasmas de baús sombrios
não se abrirá para os guardiões de templos perdidos.
Chuva vai fina, afiando o som, afetando a terra,
desfiando a teia pra compor outro espaço, outra esfera
de ritmos, luzes de amanhã acesa na noite sinistra.
Que se brinde a chuva!
Que se dance em tribos!
Que se fale o verbo, segredo divino,
que a fé não troca chance por qualquer moeda!
Nem de troça vive a minha espera imperfeitamente humana!
E toda inquietação, toda pulsação,
toda dimensão vai de palmo a palmo,
dedilhando o tempo,
transformando as flores, os adubos vivos
em dias de amor desanuviados...
Por isso te peco, peco com meu corpo,
e peço do teu corpo de hoje e de horas, colo pra dormir.