NOTURNA

(Patricia Porto)

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Chuva cai fina,

minha noite sem capa abraça o meu corpo.

O que é um corpo sem pensamento?

É uma arte inventada pelas mãos de um artesão,

é um permeado de sentido

sem projetos científicos, sem projeções de centro

que não tragam o periférico dentro do que da distância é o infinito.

Sem nenhuma morte circunstancial, acidental. Só a da raiz, aprofunda.

Apenas o corpo ao devir ao vir,

que ao proteger do mal nele revela o bem, o sal.

E quando o medo invadir seu quarto,

meu guarda-fantasmas de baús sombrios

não se abrirá para os guardiões de templos perdidos.

Chuva vai fina, afiando o som, afetando a terra,

desfiando a teia pra compor outro espaço, outra esfera

de ritmos, luzes de amanhã acesa na noite sinistra.

Que se brinde a chuva!

Que se dance em tribos!

Que se fale o verbo, segredo divino,

que a fé não troca chance por qualquer moeda!

Nem de troça vive a minha espera imperfeitamente humana!

E toda inquietação, toda pulsação,

toda dimensão vai de palmo a palmo,

dedilhando o tempo,

transformando as flores, os adubos vivos

em dias de amor desanuviados...

Por isso te peco, peco com meu corpo,

e peço do teu corpo de hoje e de horas, colo pra dormir.

Patricia_Porto
Enviado por Patricia_Porto em 07/04/2012
Reeditado em 07/04/2012
Código do texto: T3599182
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