CAMALEÃO DO AMOR
Amo-te
Amotinadamente
Na hora funesta que não há fresta de luz
Resta-me tirar a máscara da neblina e libertar o capuz
E arrastar-me vertiginosamente por teu corpo
Engravidado pela ventania vestida por baixo de tua pele
Enchendo minhas velas com teu sopro quente
Velas de ventania em mar de poesia...
Pelo teu olhar de mel busquei teu céu
Na vaga do curso compelido meu louco impulso
Que navega pelo meu coração convulso
Como as altas ondas que o sol doura
Busco a tua boca que é minha manjedoura
Minha fonte imorredoura
Tua pele meu carinho pele de carneiro meu pergaminho
Tu és as boas novas o fio tecido pelas tecelãs da inspiração
Nas penas caudais a beleza do pavão no bico a esperança
O verde raminho da terra prometida o suave rosmarino
Leve e sem o laço que deixa o pássaro preso à sua loucura
No sorriso tens a candura dos anjos tocando banjos
Tu és a minha rosa da formosura do mês de maio
Viçosa e perfumada como o ar das primeiras horas da manha...
Purificas minha vida com tuas pétalas orvalhadas
Cristalizadas de almíscar penetrável pelas pupilas dilatadas
Como amor de viver e amor de matar... Amor de suar
Até encher o mar de deleite pro pescador a fome matar
Escrutinamos o amanhecer
E aglutinados no mimetismo das horas
Passamos a ser um só ser amalgamados um no outro
Camufladamente trocamos de pele
E quando fazemos amor
Mudamos de cor...