Se Me Esqueceres

Quero que saibas

uma coisa.

Sabes como é:

se olho

a lua de cristal, o ramo vermelho

do lento outono à minha janela,

se toco

junto do lume

a impalpável cinza

ou o enrugado corpo da lenha,

tudo me leva para ti,

como se tudo o que existe,

aromas, luz, metais,

fosse pequenos barcos que navegam

até às tuas ilhas que me esperam.

Mas agora,

se pouco a pouco me deixas de amar

deixarei de te amar pouco a pouco.

Se de súbito

me esqueceres

não me procures,

porque já te terei esquecido.

Se julgas que é vasto e louco

o vento de bandeiras

que passa pela minha vida

e te resolves

a deixar-me na margem

do coração em que tenho raízes,

pensa

que nesse dia,

a essa hora

levantarei os braços

e as minhas raízes sairão

em busca de outra terra.

Porém

se todos os dias,

a toda a hora,

te sentes destinada a mim

com doçura implacável,

se todos os dias uma flor

uma flor te sobe aos lábios à minha procura,

ai meu amor, ai minha amada,

em mim todo esse fogo se repete,

em mim nada se apaga nem se esquece,

o meu amor alimenta-se do teu amor,

e enquanto viveres estará nos teus braços

sem sair dos meus.

Pablo Neruda, in "Poemas de Amor de Pablo Neruda"

Pablo Neruda
Enviado por Gabriela Carvalho em 27/03/2012
Código do texto: T3579564
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.