Poema da pele
Amor, que prazeroso é senti-lo
Em seu estado bruto, básico
Simplesmente físico
Cujo mínimo contato
Provoca na carne o arrepio
Imediato
Amor, não como palavra
Nem como sílaba, prefiro
O gesto, o tato...
Aquele amor que não é fantasia
Aquele amor
Que é fato
O amor descrito como forma
Não teoria
Sem fórmula mágica para dar certo
Amor lúcido, amor prático
Que vivencia o momento e se consome
No ato
O amor que arranha
Que acaricia
No fundo dedilhar do corpo a corpo
Amor com toque e com tato
Que morre, disposto a nascer e nascer
De novo
Amor
Que não se atenta a modos ou conceitos
Ciente do fardo de amar, mas ama
Com igual devotamento e desejo
Seja no chão
Seja na cama
Amor simples
Primitivo
Feito dos líquidos da carne
Que é vivo, e vive por uma razão
Mas que sabe viver também
Em vão
Amor amigo, amante
Que surge sem suspeita
De um olhar
E culmina entre os poros, entre os pêlos
Fazendo tremer, fazendo
Ofegar
O amor que soa
E sua
Pelos filtros da epiderme
Como o cego que atravessa um labirinto
Guiado por intuição
Por instinto
E é este amor que ousado alucina
Cada célula minha
Cada fibra
Afundando-se nas fendas do meu corpo
Deixando-me a seu jugo...
Como um tolo
E é este amor que quero, sem medo...
Desenfreado condutor
Alcoolizado do meu peito
Que me guia sem mistério, e derrama
Toda a sua força em minha frágil e insana
Condição humana.