CANÇÃO MALDITA
CANÇÃO MALDITA I (19 dez 2011)
Não tenho mais dúvida, que a máscara falsa
perdeu seu elástico e do rosto rolou:
só vejo o pretexto, tal qual escorregou,
nem sequer nos mamilos o engano se calça.
Foi só pretensão, um tempero de salsa,
uma dança estrangeira que ao solo arrastou
o véu de incentivos que sempre ocultou
o motivo real da negaça e da balsa
que o córrego corta, em instante fugaz,
deixando bem claro o que estava por trás,
que não era o receio de alheia opinião,
por mais que explicasse, em texto falaz,
em nada apagando a assertiva mordaz
do espaço vazio dentro em seu coração.
CANÇÃO MALDITA II
Porém no meu peito o vazio não ficou,
pois até se expandiu, feito má digestão,
esse amor devorado, de inchar coração,
sem gástrico suco e que não dissipou.
Ficou lá fervendo, o carinho trancou,
tornado em azia, igual congestão,
não se pode esvair numa rubra paixão,
não se pode mostrar e, por fim, se empedrou!
Julguei estar livre, nas vascas do engano,
mas foi gestação de cruel agonia,
para cada suspiro, outro verso me sai!
me sobe da boca, no ventre não cai,
em pura inversão, absorto de insano,
em que, mesmo infundada, a esperança luzia.
CANÇÃO MALDITA III
E é assim que eu aborto mil versos de nada,
que o alvo do amor recusou-se a aceitar,
que se espalham no mundo, em seu vago adejar,
mil sonhos de orgulho e vaidade frustrada.
Canção desvalida, maldição apressada,
que amor imperfeito nem se deve cantar,
não existe elegia em qualquer desprezar,
mas derrota maldita e jamais enterrada.
E os versos que fluem, fugiram da morte,
mil vermes nascidos por desolação,
mas que abrem casulos e rompem as teias.
Para cada tristeza, uma nova consorte,
capaz de bailar, revoada de areias,
na carne esvaída em desfeita emoção.