BONS TEMPOS

BONS TEMPOS

Foi num domingo chuvoso

Dia frio e entediado

Que você me “encarou”

E num gesto confirmado

Que me deixou assustado

De tal forma me esnobou

Como não tive saída

Juntei o pouco que pude

Arrumei numa sacola

Cuidei de “dar logo o fora”

Antes que arruinasse tudo

Tinha pouco a transportar

Uma escova de dente

Um litro de aguardente

Que insistia em guardar

Parece por precaução

Quem sabe, premonição

Que eu iria precisar

E bebi tudo o que pude

Dizem que tomei um “porre”

E pra ressaca curtir

Não me esqueci de ouvir

Aqueles meus discos “bregas”

Fui à fossa sem desvelo

Quanta dor-de-cotovelo

Eu passei pensando em ti

Mas, como não tinha jeito

Antes de mudar o plano

De sair desse lugar

Eu conferi na sacola

O que havia por lá

Tinha um disco de Caetano

Uma canção de Cartola

Com o fado “tanto mar”

A foto do “CHE GUEVARA”

Uma estrela do “PT”

Que me orgulho de ostentar

Um velho calção de praia

Um boné de guerrilheiro

Que ganhei de um companheiro

Na guerrilha do Araguaia

Foi tudo o que consegui

Nesse tal capitalismo

Que só se vale o que tem

E o que se pode juntar

E no meu idealismo

Fiquei só, sem tem ninguém

Por isso vivo a vagar

Se a saudade me atormenta

Volto aos bons “anos sessenta”

E me ponho a recordar!

Paulo Gondim
Enviado por Paulo Gondim em 24/01/2007
Código do texto: T357058
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