LAMENTO DE TIJUMBRA E A TEIA ROMPIDA

TIJUMBRA I (1º DEZ 11)

É verde o céu que sobre mim se agita,

a chuva em mim derrama e, de infinita,

meu encéfalo preenche e me concita

a demandar as plagas da noosfera.

O sangue dorme enquanto a alma voa

e a saga dos neurônios mais entoa,

a linfa corre os brônquios e se escoa

e nova mágica na memória gera.

São os dias, como pólvora de antanho,

que me explodem nos sonhos. Vejo a areia

a ranger sob meus passos pela estrada,

nessa marcha em que fantasmas acompanho,

enquanto a górgona da mente se incendeia,

por tais visões antigas marchetada.

TIJUMBRA II

Muitos morreram, de coração partido,

segundo dizem, morte de amor dourada,

que eu pensaria ser mais encarnada,

pois só se parte um coração empedernido

pelas tristezas da vida granulado,

esse jato de vida assim perdido,

esse langor de sonho ensandecido,

que por sofrer se fez petrificado;

ou, quem sabe, tornou-se desnutrido,

pela ausência do líquido do amor

e pouco a pouco, de triste, ressecou-se,

por dezenas de fendas percorrido

e ao dilatar-se, em presença do calor

de um novo ardor, finalmente, esfacelou-se.

TIJUMBRA III

Não é de amor, portanto, que se morre

e muito menos de paixão negada;

é o sangue seco que a artéria então percorre,

nesses coágulos da veia atribulada.

Seja o calor da ausência que assim torre

os capilares da carne esclerosada,

vedando a amor o lugar por onde escorre:

fica a paixão na pele ressecada...

E assim amor só por um pouco sobrevive,

o seu cadáver a contemplar, com pena

de preparar seu próprio funeral...

E embora a vida não mais se reative,

ergue-se o féretro do corpo sobre a cena,

enquanto amor... suicida-se, afinal.

TEIA ROMPIDA I (2009)

Abro o Outlook. Não há mensagem nova,

o que é exceção, não regra. Até me agrada

que ninguém me tenha escrito, nem que brada

qualquer pedido de socorro que comova,

em narração de sofrimentos ou de queixas,

a quem vá consolar, pois não me furto

a dar um ombro amigo a quem em surto

esteja e me revele as suas endeixas.

Se ninguém fala, posso trabalhar.

Já há tristezas de sobra, artificiais,

nestes livros que me dão a traduzir.

E fico assim, perdido a digitar,

cheio de gratidão, que é nesses afinais

que encontro os meios para subsistir...

TEIA ROMPIDA II (14/11/11)

Em outras ocasiões, as há em excesso,

essas mensagens que me foram digitadas.

Algumas são spam e descartadas,

outras a mim de forma ou outra têm acesso,

para pedir a mim o que eu mesmo nunca peço,

que contribua para causas propaladas

ou para listas de protesto organizadas,

contra os tiranos de menor apreço.

Outras me trazem mensagens dos amigos,

muitas vezes me pedindo algum favor,

mas em outras com notícias mais recentes;

outras ainda trazem para meu abrigo

traduções desejadas com fervor,

no interesse das mais estranhas gentes.

TEIA ROMPIDA III

Meu Outlook é uma janela para o mundo

e me debruço em total privacidade,

respondendo quando quero. É bem verdade

que na descortesia não abundo

e não demoro demais, neste profundo

comunicar em responsividade.

Eu me preservo, com responsabilidade,

e quase nunca demonstro-me iracundo...

Porém não uso celular, que obriga,

do mesmo modo que as tais redes sociais,

a responder na hora em que me chega

e até evito telefone à moda antiga,

pois me traz impressões mais impessoais

e a voz da solidão ao rosto esfrega.

TIJUMBRA I (1º DEZ 11)

É verde o céu que sobre mim se agita,

a chuva em mim derrama e, de infinita,

meu encéfalo preenche e me concita

a demandar as plagas da noosfera.

O sangue dorme enquanto a alma voa

e a saga dos neurônios mais entoa,

a linfa corre os brônquios e se escoa

e nova mágica na memória gera.

São os dias, como pólvora de antanho,

que me explodem nos sonhos. Vejo a areia

a ranger sob meus passos pela estrada,

nessa marcha em que fantasmas acompanho,

enquanto a górgona da mente se incendeia,

por tais visões antigas marchetada.

TIJUMBRA II

Muitos morreram, de coração partido,

segundo dizem, morte de amor dourada,

que eu pensaria ser mais encarnada,

pois só se parte um coração empedernido

pelas tristezas da vida granulado,

esse jato de vida assim perdido,

esse langor de sonho ensandecido,

que por sofrer se fez petrificado;

ou, quem sabe, tornou-se desnutrido,

pela ausência do líquido do amor

e pouco a pouco, de triste, ressecou-se,

por dezenas de fendas percorrido

e ao dilatar-se, em presença do calor

de um novo ardor, finalmente, esfacelou-se.

TIJUMBRA III

Não é de amor, portanto, que se morre

e muito menos de paixão negada;

é o sangue seco que a artéria então percorre,

nesses coágulos da veia atribulada.

Seja o calor da ausência que assim torre

os capilares da carne esclerosada,

vedando a amor o lugar por onde escorre:

fica a paixão na pele ressecada...

E assim amor só por um pouco sobrevive,

o seu cadáver a contemplar, com pena

de preparar seu próprio funeral...

E embora a vida não mais se reative,

ergue-se o féretro do corpo sobre a cena,

enquanto amor... suicida-se, afinal.

William Lagos
Enviado por William Lagos em 18/03/2012
Código do texto: T3561681
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