Mutação na estrutura
Quis Deus, após uma tentativa de negar minha energia corpórea
que eu encontrasse em outra pessoa um pedaço de minha glória
e costumava a lidar com essas coisas com a fluidez dum tecido
mas agora lembranças de beijos entrecortam o meu rígido tema
e eu nem sei bem dizer se isto é, especificamente, um problema
afinal de contas, é deste modo que tenho sempre por aqui vivido
Gosto muito deste novo formato de criação, sob os pares de vistas
criadas por minhas mulatas mãos que hoje juro serem bem quistas
vejo essas estranhas finalidades que os meus dois braços carregam
e elas tem em si tanto pecado, dos quais não contei a alma alguma
é que juro que as vertebras e cartilagens se resumem a apenas uma
arma que antes de terem encontrado o amor, lhe ferem, lhe cegam!
Mas agora uma lingua que tem se encontrado dentro de minha boca
conta contos de uma realidade outra, talvez o sonho de cabeça louca
não és este monstro que pintas, não és o novo tipo de Dom Casmurro
e o que se mostra sobre a luz que bate no foco destes dois olhos meus
são, talvez, meu presente mais querido que eu tenho ganhado de Deus
mas quanta maravilha comparar gritos dum passado a este teu sussuro!
Ainda acho que deve ser tremenda a fatalidade de ter que reduzir-me
a quilos de carne estragada, com as lembranças do quanto eu era firme
firme, tanto na minhas convicções quanto em minha biológica estrutura
mas o tempo nos consome e nos muda tanto que tudo vai e o que fica
daquilo que não foi só porque não teve força para ir: a parte mais rica
dos corpos insãos, aquilo que chama de alma celebram nossa loucura
Somos somente dois doidos, inclassificados como seres carnais
e perante a nefasta natureza declaramos que não queremos sofrer mais
queremos cair na vala de ópio que se chama ( esquizofrênica que ela é)
felicidade ou qualquer outro termo, regada com a mais augusta crença
de que todos os átomos nunca mais vibrarão em frequências de doença
e de que nossos corações formarão o pilar nunca visto a virtude da fé!