Mutação na estrutura

Quis Deus, após uma tentativa de negar minha energia corpórea

que eu encontrasse em outra pessoa um pedaço de minha glória

e costumava a lidar com essas coisas com a fluidez dum tecido

mas agora lembranças de beijos entrecortam o meu rígido tema

e eu nem sei bem dizer se isto é, especificamente, um problema

afinal de contas, é deste modo que tenho sempre por aqui vivido

Gosto muito deste novo formato de criação, sob os pares de vistas

criadas por minhas mulatas mãos que hoje juro serem bem quistas

vejo essas estranhas finalidades que os meus dois braços carregam

e elas tem em si tanto pecado, dos quais não contei a alma alguma

é que juro que as vertebras e cartilagens se resumem a apenas uma

arma que antes de terem encontrado o amor, lhe ferem, lhe cegam!

Mas agora uma lingua que tem se encontrado dentro de minha boca

conta contos de uma realidade outra, talvez o sonho de cabeça louca

não és este monstro que pintas, não és o novo tipo de Dom Casmurro

e o que se mostra sobre a luz que bate no foco destes dois olhos meus

são, talvez, meu presente mais querido que eu tenho ganhado de Deus

mas quanta maravilha comparar gritos dum passado a este teu sussuro!

Ainda acho que deve ser tremenda a fatalidade de ter que reduzir-me

a quilos de carne estragada, com as lembranças do quanto eu era firme

firme, tanto na minhas convicções quanto em minha biológica estrutura

mas o tempo nos consome e nos muda tanto que tudo vai e o que fica

daquilo que não foi só porque não teve força para ir: a parte mais rica

dos corpos insãos, aquilo que chama de alma celebram nossa loucura

Somos somente dois doidos, inclassificados como seres carnais

e perante a nefasta natureza declaramos que não queremos sofrer mais

queremos cair na vala de ópio que se chama ( esquizofrênica que ela é)

felicidade ou qualquer outro termo, regada com a mais augusta crença

de que todos os átomos nunca mais vibrarão em frequências de doença

e de que nossos corações formarão o pilar nunca visto a virtude da fé!

Ernani Blackheart
Enviado por Ernani Blackheart em 13/03/2012
Reeditado em 14/09/2014
Código do texto: T3552783
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.