As Ondas do Mar…
Tentei criar algo de rebuscado
Já demasiado visto
Um algo demasiado popular
Ou demasiado intelectual
Cheio de referências
E citações
Das tuas leituras
Das tuas vivências
Um algo de que fosses gostar
Reparando que sempre fizera tal
Mesmo sem te conhecer
E por isso limitei-me a reproduzir os erros
Do lugar comum
E talvez por isso
Em vez de me aproximar de ti
De ti estava-me a afastar…
Em coisas que se dizem
Em coisas que se repetem
Até à derradeira exaustão
Em coisas que parecem um eco
Porque nos são devolvidas
De uma forma por vezes subliminar
O lado perverso da repetição…
No qual descobrimos que nos repetimos
Quando julgávamos dizer algo de novo
Algo de inusitado
Na crença que a pedra filosofal
De criar algo de único
Ainda não foi achada
Ou descoberta
Na crença tola
De que as palavras
E os gestos belos que te dou
São meras reproduções
Serigrafias sensoriais
A que falta
Algo de original
Mas quando se diz que se gosta
E se diz com tal emoção
Com tal dedicação
Aquilo que dizemos
Parece ser sempre algo de novo
Embora não seja nada de novo
O que nos trás por cá
Apesar do desejo de desmistificar esse mito
Ser apenas um desejo
Que morre
Pela realidade
De nele
Ninguém realmente acreditar
Um desejo que se esgota
Assim como se esgotam e se recriam
Todos os dias desde o começo dos tempos
As ondas do mar…