SOMBRA CATIVA.
Quando o amor amadurece, floresce,
da dor esquece,
enobrece,
desenfalece.
Suas ancas ficarão mais donas, mais matronas,
sua pele descobrirá novos cheiros, novas falas,
novos arpões.
Quando o amor desmama, desinflama,
ficará mais dócil, ficará mais gozo,
ficará menos ateu.
Então irá alforriar suas travas, seus berros retidos, suas natas vencidas, ficará menos aflito, menos restrito, menos escrito,
menos tonto.
Então deportará suas caras amarradas, seus ócios falidos, suas castas surradas,
ficará mais muque, mais estuque, mais batuque,
desafrouxará suas veias pro sangue cair nas baladas.
E só assim, deflagrando cada alma à deriva,
cada sombra cativa, cada anjo banido,
voltará pro centro do palco só pra receber os aplausos tardios,
os melhores aplausos, por certo.
E assim, desabotoando as chagas que insistirem em parir seus rebentos, fará o que deverá fazer.
Ou seja, sorrir.
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