PÉROLA
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No labirinto do mar, recifes, declínios de corais,
uma rosa negra habita o oceano,
uma mancha eterna de sangue faz do mar o vermelho.
A rubra casca do que já não deitamos fora.
O fora adentro do cais que é só parada,
repouso para águas e sangue de teu útero: terra,
Gaya, mãe, força de ostra.
Peço- te a mão para um afago,
o teu rosto para a lembrança vindoura,
teu colo submarino, fluído, o próprio movimento
à nossa deriva, nova mudança de vista.
Peço-te o abraço sempre último
na tua velhice de perdões.
Não deixarei ao mar à presa, nem levarei comigo o sal.
Deixo-te nas mãos minhas sementes repartidas,
plantemos juntos, juntas nossas humanas fragilidades.
Peço tua mão na despedida, peço teus olhos ao largo
voltados ao encontro de nossas vidas.
Digo-te adeus porque te preciso.
Levo de ti minhas conchas, ouvidos internos,
tua voz, teu cheiro, o cheiro eterno de nossa casa.
Na casa das ostras, onde sou de nascença tua pérola.
Patrícia Porto