SUA VIDA EM SUAS MÃOS
Abra o seu coração.
Vejo a chave pendente em seu peito como enfeite.
Porque o pressenti contraído, vim pra renovar o ritmo de suas batidas.
Sabe! Não foi fácil!
Não se entra no íntimo de alguém assim, de qualquer jeito.
Por isso, cheguei cauteloso, de mansinho...
E penetrei no seu corpo, como que por acaso,
por vagantes vasos,
que os percorri, em circuito, num só instante.
Ainda agorinha, passeei pelo dorso de sua mão.
Sua alma estava salva, pois cantava e pulava
lá na veia salvatela,
onde se me abriu uma janela
e eu passei pela via da artéria aorta.
Não tinha muito o que ver nem o que esperar.
Dali fugi, certamente movido por suas emoções.
Foi quando precisei reabastecer de oxigênio os seus fortes pulmões.
Sem saber, ao certo, onde era a saída,
sem inspiração,
fiz que buscava as veias cavas, pela veia porta,
no intuito de reencontrar a artéria aorta.
Na verdade, tateei apenas pela jugular,
que, sem pudor, me jogou lá pros quintos das safenas!
Fiquei plasmado com esse tratamento de desertor.
Como se eu viesse transfugido
ou transvasado de algum órgão dilacerado.
Atirou-me dessa forma, estupidamente, desconhecendo o meu valor...
Por favor, respire fundo, encare a sua jugular
e ordene-a para me pôr a salvo,
pois, lhe asseguro, sem um pingo de vaidade,
que minha missão de andarilho é para o seu bem
e para o bem da humanidade.
De sorte que,
qualquer desvio da bela caminhada que eu seguia,
minha coagulopatia poderá vir a ser a sua
“causa mortis”.
Não entenda isso como uma pressão de minha parte,
mas, tão somente, como uma prova da minha capacidade de reconstituição
de suas forças e de eventuais células suas pelo tempo danificadas.
Vim até aqui, a princípio, um tanto absorto,
passeando pelos rios sinuosos do seu corpo,
mas, na travessia de uma cachoeira,
vi que,
sem mim, você não sobreviverá.
Para sempre, ficará comigo deveras e seriamente comprometida.
Até posso lhe ajudar a abrir as aurículas do seu coração,
por sinal, avessas a chaves, transplantes e transfusão.
Seus ventrículos lhe dirão não aceitar despedidas
e muito reclamarão a minha volta,
minhas necessárias investidas.
Não lhe querem morta.
Sabem que sou seu sangue.
Sua vida.
(Fernando A Freire)
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Para o texto: Ciranda do Bem Viver Poetisa Ana Stoppa - Tema: Abra O Seu Coração - Prazo - 30.11.2011.
Poema original de Fernando A Freire, transcrito em 06/11/2011 – 01:22 h
(T3337774)
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Abra o seu coração.
Vejo a chave pendente em seu peito como enfeite.
Porque o pressenti contraído, vim pra renovar o ritmo de suas batidas.
Sabe! Não foi fácil!
Não se entra no íntimo de alguém assim, de qualquer jeito.
Por isso, cheguei cauteloso, de mansinho...
E penetrei no seu corpo, como que por acaso,
por vagantes vasos,
que os percorri, em circuito, num só instante.
Ainda agorinha, passeei pelo dorso de sua mão.
Sua alma estava salva, pois cantava e pulava
lá na veia salvatela,
onde se me abriu uma janela
e eu passei pela via da artéria aorta.
Não tinha muito o que ver nem o que esperar.
Dali fugi, certamente movido por suas emoções.
Foi quando precisei reabastecer de oxigênio os seus fortes pulmões.
Sem saber, ao certo, onde era a saída,
sem inspiração,
fiz que buscava as veias cavas, pela veia porta,
no intuito de reencontrar a artéria aorta.
Na verdade, tateei apenas pela jugular,
que, sem pudor, me jogou lá pros quintos das safenas!
Fiquei plasmado com esse tratamento de desertor.
Como se eu viesse transfugido
ou transvasado de algum órgão dilacerado.
Atirou-me dessa forma, estupidamente, desconhecendo o meu valor...
Por favor, respire fundo, encare a sua jugular
e ordene-a para me pôr a salvo,
pois, lhe asseguro, sem um pingo de vaidade,
que minha missão de andarilho é para o seu bem
e para o bem da humanidade.
De sorte que,
qualquer desvio da bela caminhada que eu seguia,
minha coagulopatia poderá vir a ser a sua
“causa mortis”.
Não entenda isso como uma pressão de minha parte,
mas, tão somente, como uma prova da minha capacidade de reconstituição
de suas forças e de eventuais células suas pelo tempo danificadas.
Vim até aqui, a princípio, um tanto absorto,
passeando pelos rios sinuosos do seu corpo,
mas, na travessia de uma cachoeira,
vi que,
sem mim, você não sobreviverá.
Para sempre, ficará comigo deveras e seriamente comprometida.
Até posso lhe ajudar a abrir as aurículas do seu coração,
por sinal, avessas a chaves, transplantes e transfusão.
Seus ventrículos lhe dirão não aceitar despedidas
e muito reclamarão a minha volta,
minhas necessárias investidas.
Não lhe querem morta.
Sabem que sou seu sangue.
Sua vida.
(Fernando A Freire)
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Para o texto: Ciranda do Bem Viver Poetisa Ana Stoppa - Tema: Abra O Seu Coração - Prazo - 30.11.2011.
Poema original de Fernando A Freire, transcrito em 06/11/2011 – 01:22 h
(T3337774)
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