Um Certo Final…
Cinco e tal da manhã
Dizem que o mundo está para acabar
Mas a única coisa que sinto
É que o tempo
E sobretudo
A noite
Se estão a esgotar
Esta noite que pareceu eterna
Desde o seu começo
Até ao seu fim
Pela quantidade de coisas que senti
Pela quantidade de pessoas
Que tive perto de mim
Um tempo vivido na lógica da infância
Em que a sua duração parece algo de ilimitado
Um tempo vivido na perspectiva de um adulto
Em que fazia a questão de estar com alguém
Com copos
E corpo com ela partilhar
De a tentar agarrar
Fugazmente
Porque quando a noite chegasse ao fim
Quando o sol despontasse
Teria outro tipo de desejos
De anseios
E por isso
Ela estaria a mais
Se continuasse a meu lado
E assim me levanto
Antes dos primeiros raios me poderem cegar
Sem saber mais do que o necessário
Um nome
Que não o de família
Um nome não identificativo
Para que não a voltasse a encontrar
Para que não a voltasse a ter comigo
Não por um complexo de fria ideia de corpos usar
Para logo depois
Esses corpos descartar
Mas pelo simples motivo
Desses corpos
E a sua mente esgotar
A mim
E a eles
Pela intensidade do sentido
Por gestos e palavras
E sentires
De tal ordem exprimidos
Que deixaram
Ambos
De me completarem
Pelo medo
Da fome
Da necessidade
Permanente
E não temporária
A que poderiam dar lugar
E assim
O fim de cada noite
É já o prenúncio
Da que se seguirá
Em que tendo vontade de ficar
Nunca ficarei por lá
Em que tendo vontade de amar
Dou-me aos pedaços
Que são impossíveis de ligar
Entre si
De possuírem uma lógica
Que façam
Alguém
Por mim
Por nós esperar
A lógica
De que sou feliz ali
Mas desejava
Ser feliz
Num outro qualquer lugar
Porque é na fuga
Da evanescencia
De mim
Para toda a gente
Que encontrei
Um possível
E utópico ideal
Uma canção de epílogo difícil de adivinhar
Ou talvez demasiado fácil
Que resumo numa expressão