Um Certo Final…

Cinco e tal da manhã

Dizem que o mundo está para acabar

Mas a única coisa que sinto

É que o tempo

E sobretudo

A noite

Se estão a esgotar

Esta noite que pareceu eterna

Desde o seu começo

Até ao seu fim

Pela quantidade de coisas que senti

Pela quantidade de pessoas

Que tive perto de mim

Um tempo vivido na lógica da infância

Em que a sua duração parece algo de ilimitado

Um tempo vivido na perspectiva de um adulto

Em que fazia a questão de estar com alguém

Com copos

E corpo com ela partilhar

De a tentar agarrar

Fugazmente

Porque quando a noite chegasse ao fim

Quando o sol despontasse

Teria outro tipo de desejos

De anseios

E por isso

Ela estaria a mais

Se continuasse a meu lado

E assim me levanto

Antes dos primeiros raios me poderem cegar

Sem saber mais do que o necessário

Um nome

Que não o de família

Um nome não identificativo

Para que não a voltasse a encontrar

Para que não a voltasse a ter comigo

Não por um complexo de fria ideia de corpos usar

Para logo depois

Esses corpos descartar

Mas pelo simples motivo

Desses corpos

E a sua mente esgotar

A mim

E a eles

Pela intensidade do sentido

Por gestos e palavras

E sentires

De tal ordem exprimidos

Que deixaram

Ambos

De me completarem

Pelo medo

Da fome

Da necessidade

Permanente

E não temporária

A que poderiam dar lugar

E assim

O fim de cada noite

É já o prenúncio

Da que se seguirá

Em que tendo vontade de ficar

Nunca ficarei por lá

Em que tendo vontade de amar

Dou-me aos pedaços

Que são impossíveis de ligar

Entre si

De possuírem uma lógica

Que façam

Alguém

Por mim

Por nós esperar

A lógica

De que sou feliz ali

Mas desejava

Ser feliz

Num outro qualquer lugar

Porque é na fuga

Da evanescencia

De mim

Para toda a gente

Que encontrei

Um possível

E utópico ideal

Uma canção de epílogo difícil de adivinhar

Ou talvez demasiado fácil

Que resumo numa expressão

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 04/03/2012
Código do texto: T3534441
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