Nada Passou Em Branco

Ao amor, em verdade, fui tão atento
Que em nada, me passou em branco
O semitoque das mãos, o encanto
O canto do pranto, o discernimento

Foi tanto e tão puro meu deslumbramento
Obsessivamente, fosse sol, ou enxurrada
Em tempo integral, nem se fez obrigada
A rotina do meu maior advento

Arredio este tal sentimento
Que em um só peito lhe falta abrigo
E nem solidão, pode ser castigo
Tampouco eterno ou por um momento

Pois é estar vígil, mesmo comatoso
Ser contundente, mesmo receoso
Apreensivo, quando mais contente
Sorrir, embora os olhos vão lacrimejantes
E inda, semelhantes, somos diferentes
Ambos inteiros, os dois eternos
Um primaveras, o outro invernos
Num vice-versa, ambivalentes

É ser falta saudosa, mesmo presente
A ingenuidade mais maledicente
De tudo poder, mesmo proibitivo
Sempre cativo, mesmo em liberdade
É ser felicidade, que não tem motivo
Ser conivente, confidente, abusivo...

Eis que tanto vi, que ao amor proclamo
Procurador universal, de tudo que amo
Mestre, guia e conselheiro

Sem restrição de poder algum
Quer corriqueiro, quer incomum
Destrutivo, ofensivo, quer lisonjeiro.