AMOR NA VAZANTE DA MARÉ

Estás tão próxima e tão longe

Como na realidade imaginaria de uma vitrine

Próxima dos olhos, mas longe do alcance das mãos

E como um narciso moderno acaba beijando

Somente sem nexo pelo vidro o reflexo distante

De meu rosto também imaginário

E como um corsário pirata

Vou tomando navios em mares abandonados

E fincando minha bandeira nestes pobres corações solitários

Sem porto pra atracar!

E tu dentro desta bolha secundária

Como um pássaro sem vida sem uva sem vinha

Vai trocando de roupas como quem troca de penas

Um fantoche bordado na rotina para encher falsas retinas

E minhas asas vão arrastando nas águas que desaguais

Beijando teu retrato desbotado que carrego na algibeira

E de frente pra este mar de saudade na beira do cais

Vou levando minha sereia

Que das minhas ondas cerebrais não sai

Vou carregando sonho e ansiedade

Contando areias na saudade

E os barcos passam engolfados pelo vento

Como acentos na água vão contando causos

Que os pescadores pra passar o tempo inventam

Só a memória inverte esta contra dança

Parando a célere temperança quando

No coração sereno vem a mais linda lembrança

De um amor que um dia foi meu

Que pesquei no arpoador com o arpão de cupido

E por ser eu um homem rústico e das rendas de redes

Ficou na cidade de pedra alegando incompatibilidade

Hoje vive noutro lugar tem seu castelo

E eu fiquei na preamar tendo meu lar como esperança

Quem sabe um dia cortando a garoa ao meio

Eu a tire daquela vitrine de plástico

E arranque este seu frio véu

Fazendo-a viver de verdade lendo o céu

Ao lado deste rústico pescador

Que tem um mar pra lhe cobrir de amor

Jasper Carvalho
Enviado por Jasper Carvalho em 29/02/2012
Código do texto: T3528202
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