AMOR DE DESERTO
Vou te polvilhar
Achar na tua pele minhas pegadas sumidas
Minha vida que ficou estacionada do lado de lá
O amor brota noite adentro
Comungo com cheirinho de coentro
Escorro na amplidão do deserto
Poros grudentos hálitos quentes
Ventos que se moldam
Escaldantes instantes
Rodopios de bailarina
Bailados indecentes sob o céu cor de azulejo
Desejos abertos ao som do realejo
Como flores de bocejo
Estar em ti
Como pássaro bem-te-vi
Como pingo no i
Distrais-me
Contrais-me
Tirando águas leitosas que encontrais
Nas digitais espinhosas dos decoctos cactos abissais
Sais de mim como essência de terebintina aguarrás
Levando leite da pedra
Sulcada até a cúspide da raiz desnuda
E vais embora sabe-se lá pra onde
Perdida pelo triangulo das bermudas
Levando camuflado meu ás e minha áspide
Com absoluta ausência insondável de mim
Minha sede cessara a serpente fora vencida
Pelo ferrão da fêmea escorpião
E eu fico pensando que nessa partida
Ela agora leva em si uma vida
Além da vida... E nada morre em vão
Diante do canto triste do corrupião...