Cama e Mesa
Da cama pouco se lembra
Posto que sempre servia
Servil se via na mesa
Envolta em tamanha tristeza
Nos varais espalhava sonhos
Tingidos de verde esperança
Só provava-os nas lembranças
Com gosto chamado saudade
Mesa farta a empanturrar
A fome de amor que sentia
Quando noites lhe entregavam
A cama de afeto vazia
A fartura do alimento
Nutria somente a matéria
Sentia o sangue quente
Correndo pelas artérias
Guloseimas coloridas
Fartavam a mesa robusta
Na alma cinza dolorida
Sentia o horror da clausura
Libertava-se nos sonhos
De se fartar de amor
Na fartura da esperança
De ver distante a dor
Farta do fado tristonho
Extrapolados os limites
Da submissão, dedo em riste
Partiu em busca dos sonhos
Banhou-se na lua nua
Postou-se na esquina das ruas
Sem mesmo saber o nome
Matou do amor a fome.
(Ana Stoppa)