PAIXÃO
A paixão é um gosto amargo
um afago asfaltado,
um decote mal ajambrado.
Quando se pendura nas linhas da mão,
feito barata tonta, feito monja mundana,
sucumbe sem dar pena.
Quando fecha seus olhos,
até aqueles roubados de outros,
até aqueles roubados de mim,
se faz mulher de vez.
A paixão é vilã, é arpão enrijecido,
se faz de rogada, de finada, de perdida,
faz o tempo rasgar suas melecas.
A paixão é porre, puro estrume,
se não souber fazê-la mulher como deve ser,
como gostaria de ser.
A paixão é voz, é algoz, é atroz, é rebite,
é o que quiser ser, e o que não quiser ser,
scredite.
Ela é estrada, é tiro, é cisco no olho,
é pedra no sapato,
se não souber embalá-la como deve ser,
como gostaria de ser.
A paixão apruma, enturma, acode, mumifica,
faz o vento menstruar sem trégua,
embaralha as taras, as amarras, os confins, os fins,
faz de gato e sapato o que quiser,
querendo ou não querendo,
sendo ou não sendo,
não importa.
Ela se esvai numa fresta do peito,
faz seu réquiem nas fronhas do sonho,
faz o chão virar pó.
Quem quiser atiçar suas rumbas, porões e sombras,
terá que, antes disso, rasgar cada voz entalada,
cada voz encardida, sumida dede sempre,
então, por certo, ela viverá.
Então, por perto, ela viverá.
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