NAVEGANTE DE TI

As estrelas do meu céu não se comparam ao brilho dos olhos teus.

Venho do país das lembranças que tenho de ti.

Eis donde venho.

Para onde vou, senão na tua direção, tentando encontrar teus rastros, teu cheiro, teu perfume a me guiar?

Dos tesouros que eu guardo, maior de todos é a lembrança de quando ainda caminhávamos pelas campinas tangendo sonhos, breves luzes de vaga-lumes a nos espiar.

E tinhas nos olhos o espanto de menina enluarada.

Minha vista se alonga no tempo. Solitude é meu chão.

Águas salgadas são lágrimas que correm pelo rosto do rio quando ele chora suas lembranças de mar.

E de barcos e de mar um pouco ainda sei.

Porque são coisas que me trazem lembranças de ti.

Velas ao vento, corrias sobre a pele das ondas, sereia encantada dos meus sonhos com tua voz de anjo azul.

E eu te queria branca espuma lambendo a solidão dos meus pés.

Pois sem ti sou triste barco à deriva, sem leme, sem rumo, sem prumo, sem norte, sem remo, sem vela e sem vento, em lamentos perdido, a te buscar.

Vem a noite, traz a brisa que murmura em meu ouvido um segredo de luar.

Diz que tu não estás distante, e que costumas também comigo sonhar.

Que tu és uma gaivota que abre asas de saudade sobre as águas a voar.

E que o ninho que procuras se assemelha ao meu cais.

E é por isso que meus olhos se alongam sobre o mar procurando ler nas ondas de você alguns sinais.

Como podem duas almas se encontrar na vastidão do infinito?

Só por algum desígnio divino.

E sei que tu és a prometida, a esperada, aquela que haverá de me fazer dormir sob a estrelas este sono de menino apaixonado pela vida.

E todos os mistérios serão desvendados quando a gente se reencontrar.

Vejo a linha do horizonte se bordando de estrelas e afinando as cordas do luar.

E minha alma canta uma oração de esperança tangendo tristezas,

afugentando as agonias dessa distância que nunca imaginei para nós.

Sei que estás aqui bem junto a mim.

Tens raízes fundas plantadas bem aqui no meu peito, dessas que não têm jeito de se arrancar.

Não falo mais de barcos. Sou teu mar.

Não falo de velas. Sou teu navegar.

Não falo mais de lembranças. Sou o teu sonhar.

Não falo mais de distâncias, nem de lonjuras.

Tu és aqui, no meu coração, esse amor eterno, solitário a pulsar.

(inspirado em poema de Ana Flor do Lácio)

José de Castro
Enviado por José de Castro em 21/02/2012
Reeditado em 24/02/2012
Código do texto: T3511826
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.