CHEIROS

Num atalho de almas nos ancoramos,

hoje decantamos nossos sonhos sem medo,

somos sumos do mesmo suor.

Vivemos estirados numa lona de circo,

cada novo espetáculo começa sem luz, sem público,

a serragem virgem do chão atiça nossa raça com dentes afiados,

afinados.

Vivemos descascados, esperando a bênção dos ventos,

e o desprezo das ondas do mar, não importa,

somos pétalas ungidas de gozos que ainda se fecundarão em nós,

sem nós.

Cada porão que desbravamos nos envivecem sem cansar,

somos peças de um tabuleiro encantado com peças novas sempre,

quem souber algo que possa entrincheirar nosso passo,

que cale-se pra sempre. Cale-se pra sempre.

Um dia te vi menina, assustada, sem chão, sem colchão, cheia de nãos,

olhar enlodado, voz distante, cheiro de quero mais,

cheiro de quero você.

Então abracei tudo que havia de você num gole só,

num golpe só. Foi lindo, lembra?...

E fomos nos atando, nos misturando, como dois perdidos no mundo,

como dois ossos que se juntam virando um osso só,

um osso só.

Assim a nossa sina abandonou suas rapinas e se fez vida,

se fez ninho, se fez família, se fez ilha.

Passaram-se mais de 20 anos e hoje,

refugiados, resfolegados e

dispersos nos nossos medos mais servis,

nos deparamos com esta cordilheira de tijolos

que chamamos de tempo a dois, de templo a dois.

Os mesmos tempos que, outrora, se fizeram zumbi,

monstro, chaga, farpa, ranço de pus,

ranço de pus.

Mas fomos capazes de destronar cada vértebra podre,

arrancando com os dentes a trilha fétida que se fazia tanto nossa,

se fazia tanto nossa. Tanto nossa.

Pra hoje, revestidos de respeito e de vontade de afronhar o que

temos de mais gostoso, o que temos de melhor,

seguiremos em frente até o sol cansar de viver.

--------------------------------------------------

conheça o meu site www.vidaescrita.com.br

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 20/02/2012
Reeditado em 21/02/2012
Código do texto: T3509146
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.