Porcelana…

Todos temos na vida

Ou tivemos

Coisas delicadas que amamos

E pela força desse amor

Tivemos medo

De tal quebrar

Mas a vida

Faz-se de atitudes

E de gestos

Que para nos levarem a algum lado

Pelo menos uma vez

Algo de muito delicado

Uma forma de arte

Lá tivemos que riscar

E de alguma forma

Desfigurar…

De facto

Ou num primeiro olhar

Numa apressada primeira conclusão

Daquilo que se fez

Não para destruir

Mas para preservar

A forma como batiam

Os dois corações

Que batiam num ritmo descompassado

De tal ordem

De tal sentido

E só por demasiada boa vontade

Poderíamos dizer

Que quem amávamos

Estava de facto ao nosso lado…

Quando não estava

Estava presencialmente

Mas mentalmente

Estava num outro lugar

Onde para lá

Podermos chegar

Alguma coisa de delicado

Metaforicamente ou não

De porcelana

Iríamos estragar

Por palavras

E algo mais do que tal

Para se tornar o que se diz

Em algo concreto

Em algo real

Que deveriam concertar

Mas as palavras

E aquilo que fazemos

São por vezes as piores inimigas

Das mais belas intenções

E assim

De facto

Partimos demasiadas vezes e para sempre

Essa porcelana

Que depois de reconstruída

Nunca mais será a mesma

Porque quando se faz algo de destruidor

Por mais digno que seja

Depois de tal

Perde-se para sempre quem se ama…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 18/02/2012
Código do texto: T3506275
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