Porcelana…
Todos temos na vida
Ou tivemos
Coisas delicadas que amamos
E pela força desse amor
Tivemos medo
De tal quebrar
Mas a vida
Faz-se de atitudes
E de gestos
Que para nos levarem a algum lado
Pelo menos uma vez
Algo de muito delicado
Uma forma de arte
Lá tivemos que riscar
E de alguma forma
Desfigurar…
De facto
Ou num primeiro olhar
Numa apressada primeira conclusão
Daquilo que se fez
Não para destruir
Mas para preservar
A forma como batiam
Os dois corações
Que batiam num ritmo descompassado
De tal ordem
De tal sentido
E só por demasiada boa vontade
Poderíamos dizer
Que quem amávamos
Estava de facto ao nosso lado…
Quando não estava
Estava presencialmente
Mas mentalmente
Estava num outro lugar
Onde para lá
Podermos chegar
Alguma coisa de delicado
Metaforicamente ou não
De porcelana
Iríamos estragar
Por palavras
E algo mais do que tal
Para se tornar o que se diz
Em algo concreto
Em algo real
Que deveriam concertar
Mas as palavras
E aquilo que fazemos
São por vezes as piores inimigas
Das mais belas intenções
E assim
De facto
Partimos demasiadas vezes e para sempre
Essa porcelana
Que depois de reconstruída
Nunca mais será a mesma
Porque quando se faz algo de destruidor
Por mais digno que seja
Depois de tal
Perde-se para sempre quem se ama…