A pelo.
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Amo-te ao sinal de um farol,
de bússolas, relógios e mares de distantes imprevistos.
Amo-te em recados ausentes reticentes que você finge não ler.
Te amo assim em ressaca pronominal.
Que nome posso dar? Saudade, que nome o teu de luz? Avesso?
Amo os teus olhos escuros do outro lado da rua, da mesa,
do outro lado da baía de todos os santos,
todas as figas, todos os dias, as noites sem o sereno de teus beijos.
Ah, teus beijos de encaixe o perfeito,
o pleno, o plano, no planejo de amores de agosto
em janeiro ou fevereiro, criminoso invento.
Sinto tudo de falta e desejo,
falha sou e folha solta vou à deriva,
e obscura hei de seguir pistas erradas, notícias de agulhas,
fazendo vigílias em palheiros, velando os sonoros,
dançando doida ritmos ciganos,com cavalos libertos
- como aquele que no meu corpo me fez sacana pra me ferir.
Passageira de um trem de renascenças,
amo-te o imponderável, o cheiro doce,
o homem o bruto e o belo, o sexo e o afeto.
Sonho o dia da ressurreição do amor:
desperto, livre, correndo ao teu segredo no ouvido,
misturado aos lençóis do teu país, da tua terra. Divino.
Vou estrangeira sem passaporte e em transe,
calma e alucinada,
desabrochando de fruta madura,
vôo acesa a casa da alma inteira,
de fitas nos cabelos,
rosas nas mãos
e olhos grandes, aguados, de aguardos de demora, de esperas,
te chamando, te clamando
por duas três quatro mil vidas ou mais.
Patricia Porto